18 de novembro de 2003

Os excessos da publicidade

Nós, portugueses, somos excessivos em muitas coisas. Talvez por estarmos habituados a ser sempre pequenos em quase tudo. Na União Europeia não estamos sequer muito mal posicionados, em 15.º lugar. Pena é, todavia, que para já aquele organismo só tenha quinze membros. Como se isso não bastasse, desde que sintamos alguma motivação, julgamo-nos logo capazes das maiores façanhas. Assim, de imediato, sem trabalho, por obra e graça do Espírito Santo.

Não poderiam as coisas ser diferentes quando se trata de futebol, uma coisa que, ainda por cima, apaixona e aliena multidões. Isso se viu ainda no ano passado, quando se realizou o campeonato mundial Coreia-Japão para que nos conseguimos qualificar. Ainda não tínhamos partido e já levávamos tudo à frente. No momento da partida o próprio primeiro ministro pediu que a comitiva – como sempre numerosa, à boa maneira, porque alguém paga – trouxesse a taça. Foi o que se viu. Tínhamos sido sorteados num grupo fácil, era canja, mais difícil era limpar o cu a meninos, ninguém se preocupasse. À frente da comitiva o Dr Madail parecia o Alexandre Magno, sem espada mas de peito atirado para diante. Começámos humilhados para acabar humilhados e vencidos. E regressámos a casa.

Corre-se visivelmente o mesmo risco com o europeu do ano que vem, cuja organização nos foi atribuída em resultado do trabalho empenhado do Sr. Carlos Cruz. Imperial, o Dr. Madail não foi capaz de resolver o contrato que havia com o seleccionador, o Sr. Oliveira. Este, que tem filhos menores e família para sustentar, meteu-se em copas e ficou a aguardar. E continua. Até que um dia destes, pela calada da noite, da mesma maneira que viajavam os deputados fantasmas, o imperial Dr. Madail se decida por assinar o cheque e pagar-lhe o que ele reclama.

Mas, mais do disso, interessa-me agora o europeu de sub-21, para que não conseguimos o apuramento directo, no grupo a que pertencíamos. Fomos repescados e temos que disputar uma eliminatória – a que, na Cantareira, já o Chico Fininho chamava “play off” – a duas mãos, com a França. A França, já Eça de Queiroz o escrevia, é um país. Pois, e daí?

A primeira mão disputou-se em Portugal, não correu bem nem mal, perdemos. E perdendo ficou em muito maior risco o nosso apuramento porque os jovens franceses não estão habituados a jogar com bola de trapos, o que nos dava jeito. Hoje, em França, disputa-se a segunda mão. É evidente, há que acreditar até ao fim, e prognósticos são para fazer, como dizia o outro, apenas quando o jogo tiver terminado. Mas a comunicação social, com relevo especial para a RTP do serviço público, tem exagerado. E vai-se fazendo crer, demagogicamente como se fossem políticos, que não corremos risco nenhum e que voltaremos apurados. Mesmo tendo feito mal o trabalho que tínhamos que fazer em casa.

Houvesse mais uns dias e, mesmo antes de jogarmos a eliminatória contra a França, já seríamos campeões. Porque somos os melhores? Não, porque somos os mais convencidos e porque nos esquecemos facilmente do que significam as palavras humildade e trabalho. Para além de algum demagogo, na RTP, pensar que informa ou legitimamente publicita alguma coisa nos termos rídiculos em que o faz.

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