21 de novembro de 2003

Vamos lá à sexta-feira!

Bem, vamos lá à arrancada difícil, quase a frio, desta sexta-feira a caminho de um fim de semana. A noite, lenta e disfarçadamente, foi cedendo o lugar a um dia cinzento, aparentemente coberto por neblina, envergonhado e comprometido. Algures, em Lisboa, a Catherine Deneuve de que se fala, recolheu a penates, ao volante de um dos seus carros de alta cilindrada, sem ter tido sucesso nos seus propósitos nocturnos. Os homens, definitivamente, estão cada vez mais difíceis. Dizendo-se que há sete mulheres para cada um deles, poucos dão conta das que lhes pertencem e ainda menos se queixam de que não encontraram as sete a que têm direito.

As temperaturas desceram nos termómetros, digitais ou de mercúrio, e a chuva sorrateiramente foi encharcando pisos de ruas e passeios até formar pequenos rios que correm pelas sarjetas. O fim de semana não promete grandes passeios, com idas à praia e banhos de sol. Ou almoçaradas de suculentos pratos regionais, em quantidade excessiva, com vinhos tintos de estalo a acompanhar, para o empanzinanço.

Folheio os jornais, não todos, e afinal está tudo bem, tudo decorre normalmente. Lá por fora como cá por dentro. Lá por fora os atentados que fazem cada vez mais mortos e mais feridos tendem a comparar-se à teimosia do senhor Bush, confluindo. Este prossegue aquilo a que eufemisticamente chamam “visita oficial” a Inglaterra, transportando-se numa fortaleza com motor e quatro rodas, mais pesado e mais difícil de destruir do que os blindados que, para libertar o povo iraquiano, ele enviou para o Iraque. Não sai à rua, diz-se que se dá mal com aquele nevoento ambiente londrino onde o tempo apenas melhora no conforto do Selfridge Parece que padece de asma e de outras doenças que os médicos não diagnosticam. No entanto, debalde e ingloriamente, cem mil pessoas concentraram-se ontem em Trafalgar Square e desfilaram por diversas ruas da cidade. Para o vitoriarem, para o aplaudirem, para lhe acenarem com pequenas bandeiras de papel. Alguns até para o aliciarem a preencher uma proposta para sócio do Arsenal e a ceder, definitivamente, aos encantos do futebol.

Por cá, como sempre, o país vai morno, modorrento, com as pessoas a queixarem-se de frio sem saberem que temperaturas se vão já sentindo por Moscovo. No parlamento discute-se o orçamento de estado. Tudo em letra e em tamanho pequenos: o parlamento, o orçamento e o estado. A discussão é para cumprir calendário, o resultado já é conhecido e nem se espera que a maioria, no final, venha a provocar quaisquer estragos nos balneários atirando com o primeiro ministro ao ar, na alegre celebração da vitória. Nem a Dra. Manuela Leite se anima e desata aos gritos, vociferando com uma energia que não é própria de quem já passou a menopausa. Como se tivesse ingerido suporíferos continua, com sonolência, a insistir em que dois e dois são seis. Com a mesma discreta convicção, para se não dar por ela, com que o Eng. Cravinho persiste na ideia, recorrente, de que dois e dois são cinco.

O Sr. José Manuel Fernandes continua em funções, como cronista oficial da república de Pacheco, pago por entidade privada, escrevendo aquilo que lhe mandam. Submisso no porte, correcto na gramática, que a Dra. Edite Estrela está à espreita. Em Lisboa o presidente da câmara vai escrevendo crónicas para jornais desportivos, pagas à linha, que ele vai discretamente publicitando em cartazes que espalha pela cidade a que só falta a sua esfíngie. No Porto o presidente da câmara continua a opor-se ao presidente do fcp e torce para que o boavista, este fim de semana, acerte as contas. Nos intervalos aparece em fotografias sentado à frente de um computador, aprendendo como se constrói um blogue. E dizem que faz progressos.

Pelo país, de alto a baixo, nevoenta, a paisagem continua. A Brisa aproveita para aumentar as portagens nas auto-estradas e a cobrá-las inteiras, para além das vigarices das obras permanentes e das filas onde os automobilistas perdem horas a fio e enterram a paciência tocando desesperadamente as buzinas. É bom que assim seja, não desejo, por mim, que o Sr. Melo possa meter ao bolso menos de oitocentos em cada mil escudos que pago à passagem por Grijó. Eu e os outros, independentemente da opção política, religião, raça ou nacionalidade.

Isto está tudo tão bom, promete tanto, que vou emigrar.Vou-me embora para Pasárgada como Manuel Bandeira, que já foi há muito tempo. Lá sou amigo do rei, lá tenho a mulher que eu quero na cama que escolherei.

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