18 de dezembro de 2003

O Dr. Santana aperta o cinto

Não havendo nenhuma razão de força maior para não acatar as recomendações da Dra. Manuela, porque haveria de ser diferente o comportamento do Dr. Santana na Câmara Municipal de Lisboa? Por nenhuma, naturalmente. E o mesmo tem sido inflexível desde que esmagou o seu adversário político por cerca de mil votos nas últimas eleições para as autarquias. Chegado à Praça do Munícipio, assinado o termo de posse, ocupado o gabinete e sentado à secretária, começou desde logo a decidir no intuito de reduzir despesas aos munícipes que começava a servir.

Assim, terá congelado as admissões de pessoal, deixado de prorrogar os contratos a prazo, eliminado as horas extraordinárias, permitido que os bobis se servissem dos recantos do Parque Eduardo VII e limitado os aumentos salariais a zero. Com algumas simples excepções de recrutar alguns assessores necessários ao seu aconselhamento, atribuir-lhes telefones domésticos, telemóveis, carros de serviço e garrafa de Martin's 20 anos na Cova da Onça a par com ordenados que lhes permitissem sobreviver sem terem vergonha dos vizinhos.

Não satisfeito com os resultados, foi mais longe. Congelou as compras de material de expediente, as esferográficas Bic cristal novas passaram a ser distribuídas aos funcionários contra a apresentação das já gastas, nenhum poderia exceder o consumo trimestral de uma caixa de clips e de outra de agrafes. Acabou com o mau hábito do café a meio da manhã, a expensas do município, e mandou que se conservassem apagadas as luzes do edifício e das redondezas passando o papel velho a ser utilizado para rascunhos, suprimindo a compra dos blocos anteriormente usados. Com a excepção de poderem adquirir aquilo que quisessem ele e os senhores assessores, aos quais os utensílios e o café eram perfeitamente indispensáveis para que funcionassem.

Apenas sendo conhecido na linha e nas docas, e mesmo assim apenas a horas tardias, achou por bem pendurar o retrato junto a cada buraco que tapava, a cada árvore que mandava podar, a cada cão que aprisionava no canil depois de ter sido apanhado em flagrante no Parque. Homem modesto e poupado com o seu dinheiro, foi gastando do que pertencia aos cidadãos, sempre na melhor das intenções. E hoje, de novo à custa deles, diz vir prestar-lhes contas e publica milhares de contos de publicidade em cinco jornais diários. Para dizer que tem gasto menos do que o seu antecessor e apontando-lhe o dedo acusador. Como se um qualquer ladrão pudesse ser ilibado do crime desde que denunciasse um ladrão ainda maior. É claro que o Dr. Santana não é um ladrão, as verbas envolvidas assumem tal dimensão que se lhe dará certamente outro nome. Roubo, como sabem, é de servente que se apropria de cinco contos. Quando se chega aos milhões já nem sequer se trata de desvio, tão pouco é condenável e, inversamente, contribui decisivamente para a construção do currículo.

Amanhã, e como isso é à custa do munícipe, o Dr. Santana deveria mandar inserir publicidade idêntica a prestar igualmente contas daquilo que a Câmara tem gasto em habitação social, em saneamento básico das zonas mais degradadas, em recuperação de edifícios situados nas mesmas zonas, no combate ao tráfico e consumo de drogas, no tratamento dos toxico-dependentes e na melhoria das condições de vida do lisboeta em geral, incluindo o ensino. Deveria fazê-lo para que os mal intencionados - como eu, que nem sequer, graças a Deus, sou seu munícipe! - não venham a interpretá-lo erradamente. E digo isto porque de fonte segura sei que se tem preocupado muito com as questões enunciadas. Especialmente à mesa do Gambrinus e nos bares das docas, sempre com companhia e com um copo de Martin's de 20 anos na mão. Amén!

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