29 de dezembro de 2003

O que o almirante Pinheiro de Azevedo se iria orgulhar

Almirante Pinheiro de AzevedoPinheiro de Azevedo foi, desde sempre, o homem que associei à temeridade que, noutros tempos, foram atribuídos a Humberto Delgado, a que atribuíram o apodo de general sem medo. Por um lado porque quando se viu sequestrado na Assembleia da República por uma horda de manifestantes se limitou a arregaçar as mangas, nem sequer perguntou quantos eram como usa fazer o major Valentim e proclamou em português que toda a gente percebe: bardamerda para a manifestação.

Depois nós temos fama de sermos um povo de brandos costumes e, como manda a etiqueta, de boas maneiras. Lemos os manuais da Paula Bobonne, batemos sempre à porta dos amigos, pedimos-lhes licença para entrar, recusamos sempre o copo que nos oferecem de primeira ou o lugar à mesa para que nos convidam quando os encontramos a jantar. Salientamos já termos feito o mesmo mas, se insistem connosco, como dizia José Rodrigues Miguéis, aceitamos e sobre o lastro que já trazíamos de casa, emborcamos mais um litro de vinho com a ajuda de uma sopa de feijão vermelho, um cozido à portuguesa e duas grossas fatias de pudim Abade de Priscos. Para, à saída, arrotarmos como uns alarves.

Olivença ou Olivenza?O almirante era diferente, nem era de meias palavras nem de meias medidas. Quanto ao empanzinanço, não sei! Publicamente declarou que não compreendia o diferendo que, penso eu, ainda mantemos com Espanha a propósito de Olivença. Pedia um fim de semana e um pelotão do exército para se por a caminho, atravessar a raia, içar a bandeira das quinas e proclamar de novo a soberania portuguesa sobre a localidade. Morreu sem que lhe dessem o pelotão e as armas necessárias, alguém o disse, por esses tempos, estavam em boas mãos. Mas não era nas dele! Talvez o nosso nacionalista ministro da defesa agora se decida, heroicamente, pelo ataque. Pela fresquinha, como manda a táctica militar tradicional, superiormente expendida em tratado pelo herói nacional Raúl Solnado, regressado vivo dos campos da Flandres.

Agora temos uma força da GNR no Iraque. Decidida a participação, a partida foi anunciada ene vezes e cancelada ene menos uma. Depois lá partiram, acompanhados de todos os jornalistas que não tinham montado a tenda à porta do estabelecimento prisional de Lisboa e que, por isso, estavam livres. Esperava-se que a viagem demorasse dez horas, acabou a demorar vinte e quatro, o equipamento foi o que se arranjou, os amigos italianos foram-lhes dispensando umas pastas para comer. Em vésperas do Natal tiveram a visita do ministro, anunciada como se o mesmo já preparasse o regresso quando ele dormia a sono solto, tranquilo com a segurança que a polícia lhe assegura à residência.

Depois de lá estarem há mais de um mês, de lhes ter faltado o bacalhau e as batatas para a consoada por erro do avião que se perdeu pelo caminho, foram recebidos, em Portugal, os primeiros três blindados de um total de vinte e um que hão-de equipar o contingente. A marca é, desde logo, elucidativa: Proteto! Entraram de imediato em testes e, segundo fonte da GNR, devem seguir para Nassíria nos próximos dias, acompanhados pelas novas espingardas HK G-36.

A mesma fonte, de acordo com o Correio da Manhã do dia 27, adianta com toda a objectividade: "As 21 viaturas vão seguir para o Iraque à medida que forem chegando. Primeiro serão estas três. Em Janeiro, devem chegar mais algumas e as restantes vão sendo fornecidas". E sobre as espingardas: "O cumprimento da missão não está de forma nenhuma em causa, mas o trabalho é facilitado com mais material disponível". Como sempre, como disse num "post" de ontem, em discordância com o editorial de um jornal diário, o país está sempre preparado para tudo. Para isto, está visto que também estava! De forma que o que fica, e não é pouco, é registar a eloquência intocável - quase me apetecia dizer eloquente! - da fonte da GNR.

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