23 de janeiro de 2004

Alguém quer fazer o favor de me explicar?

Este "post" não é, naturalmente, um convite aos políticos. Os políticos não se convidam: fazem-se convidados. Sem darmos por ela, com pezinhos de lã, estão sentados a banquetear-se à mesa do orçamento. A comer do que é bom e a beber do que é melhor, à conta do Zé. E como é de borla vai sempre mais uma pratada, faz-se sempre o sacrifício de mais um copo. A bem do empanzinanço vai sempre mais um cozido à portuguesa, como lembrava José Rodrigues Miguéis.

Mas pode ser um convite à blogosfera. Para que alguém, mais informado do que eu, me explique porque razão, sistematicamente, os políticos optam por cargos que eles dizem precários e mal remunerados, em detrimento de carreiras estáveis, bem remuneradas e com direito a mordomias que passam à margem do fisco e dos impostos. Nunca percebi qual a razão que leva um católico a escolher ser ministro, ter um ordenado de mil contos mensais, dispor de três automóveis de topo de gama com motorista às ordens e receber despesas de representação de outros quinhentos contos. E depois, como tutela de uma qualquer empresa pública, nomear administradores que ganham o triplo, ficam com os automóveis ao fim de três anos e têm motoristas fardados que nem sequer são forçados a conduzir em transgressão, a mais de 120 quilómetros por hora nas auto-estradas. Por muito que me esforce, não o compreendo e dou por mim, sempre, a pensar que os políticos são simplesmente masoquistas. Muito mais do que patriotas, empenhados de alma e coração na defesa do interesse público, como mentirosos professores me ensinaram na escola.

Esta situação é especialmente evidente no caso dos autarcas, nomeadamente dos presidentes de câmara. Todos dizem não estar e nunca ter estado agarrados ao poder, mas são contra a limitação de mandatos. Eternizam-se nos cargos, como o Sr Narciso Miranda que, mais do que ninguém, nunca quis o poder e não está preso a ele. Mas que sempre teve o cuidado de deixar a cadeira da câmara ocupada interinamente, para poder regressar. Como já regressou quando achou que ser secretário de estado do mar era água a mais para a sua cisterna. Persistentemente afixam cartazes a enaltecer as obras sem dimensão e sem significado. Que, mesmo assim, na maioria dos casos, nem sequer promoveram. Como o Dr Santana, o Dr Soares filho, o Dr Gomes carago ou o engenheiro Nuno Cardoso.

O Porto, creio, nesta pouca vergonha leva incomensurável vantagem a Lisboa. Há dias o presidente da Câmara anterior, Nuno Cardoso, andou a passear-se pela cidade para que o fotografassem de frente e de perfil, para a ilustração da entrevista. A cidade, dizia ele, estava parada. O que é inquestionavelmente verdade. Já assim tinha sido com ele e, antes dele, com o Dr Gomes, carago. Antes do Dr Gomes, carago, também! E, para exemplificar, foi invocando exemplos que, se fosse homem de bom senso, teria feito por esquecer.

Casa da Música, PortoMaus exemplos, todos, que nem os enumero. Sobre os outros sim, já pergunto. Um túnel a construir há mais de dez anos, parado durante mais de cinco, com uma extensão de alguns mil metros, entre a Praça Filipa de Lencastre e o Largo do Carregal. As obras da Porto 2001, embargadas pela Câmara no Largo do Infante. As praças de Carlos Alberto de de D, João I, esventradas e deixadas a céu aberto durante meses. A Casa da Música, dita a obra de referência do Porto 2001, ainda não concluída em 2004. Onde os desvios financeiros - creio que em ambos os sentidos - elevaram os custos de 75 para 99 milhões de euros. Para que se perceba melhor, de 15 para 20 milhões de contos, mais um terço. O que corresponde a cerca de 70.000 salários mínimos! A própria Casa da Música pondera agora encomendar uma auditoria que investigue o aumento dos custos, no mandato da anterior equipa de gestão, é claro!

Eu acho que estas situações justificam algumas coisas ou até, provavelmente, muitas coisas. Creio que começo a perceber a apetência pelo desempenho de cargos políticos. A bem do interesse público. E a bem do interesse privado também!

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