27 de janeiro de 2004

O Iraque e as armas de destruição maciça


É assim: não nos assiste, nunca, o direito de duvidar de pessoas de bem, que sacrificam as suas carreiras, o seu desafogo financeiro, as suas idas ao futebol e, até, as suas próprias famílias ao serviço público e ao interesse nacional. Nunca duvidámos de que Saddam Hussein fosse um perigo para a Terra, para a Lua e, se ainda não tivesse sido denunciado e preso, nesta altura seria já também um perigo para Marte. Pode acontecer que se conclua que não há vida no planeta vermelho - tenho um palpite de que esta designação será convenientemente suprimida! - mas, continuando Saddam em liberdade - depois do Iraque ter sido libertado, porque até aí o não estava - não haveria nenhuma remota probabilidade de que a viesse a haver. Assim fica essa possibilidade em aberto quando o planeta for colonizado e os colonos o ocuparem como já fazem na faixa de Gaza.

Também nunca duvidámos de W. Bush, que pode ser impropriamente burro, atrozmente analfabeto, supinamente cretino mas nunca mentiroso com o medo do inferno e o receio de perder, como o pai, a eleição para o segundo mandato. O mesmo acontece em relação ao seu primeiro ajudante, como se fosse um secretário de estado português, Tony Blair, caricata figura de um inferior concurso do Big Brother, meio sósia de Julio Iglesias sem ouvido para a música e com uma voz de cana rachada. E ainda, por maioria de razão, porque é português como nós, porque tarimbou no MRPP como o Dr Pacheco Pereira, empunhou cartazes com citações de Mao Tse Tung, converteu-se pela mão do Dr Santana Lopes e é amigo do George com quem às vezes toma o pequeno almoço, não duvidamos do muito nosso Dr Barroso.

Todos afirmaram ter visto provas irrebatíveis da existência das armas de destruição maciça do Sr Saddam. Que as poderia accionar em menos de quarenta e cinco minutos e fazer tudo em fanicos. Ninguém, de bom senso, terá duvidado disso. Quando o W. Bush mandou parar a guerra, assim como a tinha mandado começar, toda aquela gente se empenhou na procura dessas armas. Ainda as não encontraram. O que, claramente, prova duas coisas. Que o Sr Saddam, afinal, não era tão rápido a accionar essas armas como diziam todos os relatórios ultra-secretos que o Sr Bush guarda no bolso do casaco. Mas que, afinal também, era muito mais eficaz a escondê-las. Tão bem o fez que nem ele as encontrou. Muito menos os outros. Daqui a umas centenas de anos, quando o petróleo for coisa do passado que já não serve para nada, hão-de as gerações futuras andar a escavar as tórridas areias do deserto à procura delas. Nessa altura terão um valor arqueológico incalculável, como os fósseis dos honrados e verdadeiros dirigentes que souberam da sua existência. E a proclamaram aos quatro ventos.

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