26 de fevereiro de 2004

Portugal: medalha de bronze na carestia de vida

Durante anos a fio andámos a apregoar, em termos de competição olímpica, o facto raro de termos ganho uma medalha nas provas de vela. Depois, pela mão do eterno Mário Moniz Pereira, o atletismo português adquiriu visibilidade, garantiu estatuto e largou Carlos Lopes pelo mundo fora a ganhar competições e medalhas.

Como o governo quer e nós acreditamos, as coisas evoluíram. Um estudo cujos resultados agora foram divulgados colocam o país em terceiro lugar num conjunto de treze que foram visitados com o objectivo de analisar o custo de vida em 55 cidades. Não é brincadeira, a um terceiro lugar, para todos os efeitos, corresponde a medalha de bronze. E ainda um lugar no pódio, um ramo de flores, dois beijinhos na face dados por uma jovem ariana de nacionalidade indeterminada, um flácido aperto de mão circunstancial de um dirigente careca e o reconhecimento efusivo dos nossos compatriotas e dos antigos colegas de escola que hão-de mandar-nos postais de felicitações.

E sobretudo o orgulho - desculpem, mas embirramos com a tal auto-estima! - , ainda quente, como pneu usado regressado da recauchutagem. Sabermos que os preços em Viana do Castelo estão ao nível de Bruxelas e acima dos de Paris recorda-nos Pedro Homem de Melo e a sua determinação dita, repetida e cantada de lá irmos. Finalmente! Em alguma coisa somos iguais ou superiores aos outros. O Porto à frente de Londres! E de Manchester, ficou ontem mais do que provado. Por dois a um. Sem vaidade e sem arrogância. Humildemente, como diz o pai dele, o Sr Mourinho limitou-se, no fim, a declarar: "somos os maiores, ficou provado, sete ou oito também estaria certo".

Há lá comparação que se possa fazer entre o Tamisa e o Douro? O típico barco rabelo, carregado de pipas de néctar produzido nos socalcos, acostando ao cais de Gaia pode lá ser comparado a alguma coisa? Não é possível confundir os encantos do rio Lima, com a esconsa ponte do Sr Eiffel por cima, com o rio Sena com a torre do mesmo senhor apenas ao lado. Montmartre, Place Pigale - e o que ela tem de encantamento! - contam alguma coisa se comparados com a baixa vianense! Ou com Moledo!

Por isso mesmo não percebemos como é que amanhã, legalmente, uns trolhas quaisquer do Chile, arraçados de índio, possam produzir uma zurrapa ordinária, engarrafá-la e colar-lhe um rótulo a dizer "Vinho do Porto". Mas disso quem sabe é o engenheiro Sevinate Pinto, que é do governo e que já deve ter estado no Chile.

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