23 de fevereiro de 2004

A senilidade prematura


A senilidade é sempre extemporânea e inconveniente. Apesar da idade daqueles que visita é, mesmo assim, invariavelmente prematura. Como neste caso.

O bispo resignatário de Dili, D. Ximenes Belo, desempenhou um importante papel que nunca é demais referir nos longos anos que acabaram por levar Timor Leste à independência. Afirmou-se, adentro de fronteiras, como a voz dissonante, firme e ponderada perante a ocupação e os métodos pouco ortodoxos do poder indonésio.

A comunidade internacional acabou a reconhecer esse papel e a galardoá-lo com o Prémio Nobel da Paz, em conjunto com Ramos Horta, outro timorense resistente e ilustre. Nenhum deles pareceu deslumbrar-se com o facto e continuaram as suas missões.

Depois, de modo prematuro, D. Ximenes afirma não se sentir em condições para continuar a desempenhar o cargo de bispo e pede escusa. Pensou-se que arrumaria as chuteiras, se recolheria e iria descansar dos trabalhos e do longo caminho percorrido. Puro engano! Quando estava tudo tão bem, quando era reconhecido como o artífice que de facto fora, acaba por vir estragar tudo. Manifestando ambições políticas. É-lhe proibida essa disposição? Obviamente que não. O que a mim me acontece é apenas ter a sensação de que, por exemplo, José Saramago, depois de galardoado com o prémio Nobel, se decida a enviar um livro seu a concurso. A uns quaisquer jogos florais de um pequeno concelho do interior alentejano. Não diz a bota com a perdigota!

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