25 de março de 2004

As musas de Santana Lopes

Ontem escreveu-se aqui qualquer coisa sobre um artigo relevante de Maria Filomena Mónica no Público. Esta, que se não considera uma das queirozianas encartadas, dizia no essencial que Santana Lopes, ao pretender afirmar-se como defensor da cultura e protector dos intelectuais - pelo menos dos já mortos, que sai mais barato! - ao comprar aquilo que julgava ser o Hotel Braganza para lá instalar a Casa de Eça de Queirós, se enganara na rua, no número da porta e fora comprar um outro pardieiro qualquer. Mas tivera o cuidado da nomear, desde logo, a directora. E que esta até acha de somenos o edifício ser aquele ou mesmo outro porque, pelo menos, é certo que Eça andou por ali, pelo Chiado. Defendendo indirectamente, ao fim e ao cabo, que Fernando Pessoa está muito bem nos Jerónimos, tendo a casa que tem, dirigida por quem a dirige. Mas que a casa funcionaria e ficaria igualmente bem em qualquer uma das tabernas de José Maria da Fonseca. Que também frequentava com assiduidade, embora por razões menos poéticas e mais delitro.

Hoje Santana, na condição de vice-presidente do PSD para que o não confundam com presidente da câmara, confessa-se no Diário de Notícias, nestes termos:

Não sei quantos cantos ao certo seriam devidos para descrever as musas que me têm aparecido ao longo da vida. Nem todas têm trazido apenas bons momentos. E é natural que nenhum de nós possa satisfazer todas as musas.

Considero uma injustiça haver uma Casa Fernando Pessoa em Lisboa e não haver uma casa dedicada a Eça de Queirós. Também concordo que será bonito haver uma casa dedicada a Cesário Verde.

Bem, vamos por partes e, sendo assim, comecemos pela primeira. O que este gajo vem dizer à malta é que nem os dez cantos dos Lusíadas chegariam para albergar todas as musas em que se tem inspirado. Mas não se nota nada, pelo menos no que respeita a obras de cultura. Apareceu agora um livreco, dez anos depois, sem merecimento. Mas ele confessa e diz que nem todas lhe têm trazido bons momentos. O maganão! Afinal tem estado apenas nessa, de curtir. E assume que é natural que se não possam satisfazer todas. O que, no caso dele, a fazer fé nos boatos, deve ser verdade. Mas deve-se tentar. Além disso hoje há outros recursos, é questão de se informar.

Depois as injustiças, em segundo lugar. Há muito mais gente a precisar e a merecer a deferência. Uns vivos, outros não. É preciso saldar dívidas do seu consulado para com Saramago, que até está por cá. E amanhã terá de certeza no seu gabinete os pedidos formais, expedidos por correio azul, do professor Freitas do Amaral, de Mário Cesarini, de Urbano Tavares Rodrigues. Calado e de sobronho carregado, António Lobo Antunes há-de aparecer-lhe a meio da manhã, a pedir-lhe a chave. E a saltitar, lançando gritinhos estridentes, há-de aparecer-lhe, para o almoço, a Margarida Rebelo Pinto. A saber se lhe destinou casa em algum dos bairros sociais e se lha entrega!

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