11 de maio de 2004

O futuro está no calote

Neste país a gestão das autarquias faz-se seguindo os mesmos métodos que se usam no futebol. No futebol seguem-se os mesmos métodos que se utilizam nas contas gerais do Estado. E no Estado os princípios contabilísticos são aqueles que a conveniência momentânea dos ministros das finanças determina. No caso actual a conveniência da Dra Manuela Leite e do governo a que pertence. Assim sendo é natural e até aconselhável que os dirigentes, a exemplo do major Valentim, se distribuam por vários cargos e possam aproveitar aquilo a que chamam sinergias. Quem já é criativo numa câmara pode, de imediato, sem carecer de reciclagem, ser criativo numa empresa municipal, num clube de futebol ou mesmo num ministério.

No essencial, criatividade e aldrabice começam e acabam a ser sinónimos. É apenas uma questão de terminologia que não sabemos se a Dra Edite Estrela terá ou não incluindo nos seus prontuários da língua portuguesa. Sabendo-se, como se sabe, que foi ela uma das primeiras criativas de sucesso que o sistema político revelou no país. Mas o termo carrega um forte sortilégio, é moderno, soa bem e o que mais há são candidatos. Ainda hoje a ministra das finanças dizia publicamente não estar preocupada com as perspectivas do défice orçamental ser superior ao previsto no seu orçamento. E, criativamente, anunciou que se assim for lá terá que socorrer-se de receitas extraordinárias para equilibrar a balança. Que receitas? Vejam lá onde chega o desaforo da ignorância! Vendas de património, por exemplo, é uma delas. Ainda este ano se não vendeu património nenhum. E não referiu outras …

Em termos de facto o Estado recomenda a poupança, a juro baixo, e pratica o esbanjamento. A seguirmos, domesticamente, os mesmos princípios estaremos ainda este ano a vender as traquitanas de casa e, para o ano que vem, a desfazermo-nos das cuecas e das meias, se alguém, estupidamente, der alguma coisa por elas. A Câmara do Porto, orgulho do descontrolo nacional e da impunidade, está da há muito falida. O que, desde logo, lhe confere o direito a fazer o que lhe vier à cabeça e a não saber, sequer, aquilo que deve e muito menos a quem. O Jornal de Notícias anuncia hoje que a factura camarária do Euro pode elevar-se a 42 milhões de euros, o equivalente a cerca de 8 milhões e meio de contos. Onde está o problema? Prevê-se que seja para pagar nos próximos vinte anos, convenientemente pelas gerações futuras. O que significa que o orgulho de ser portuense passa, cada vez mais, por se ter herdado um longo e substancial rol de calotes. Já imaginamos os nossos netos a vangloriarem-se de ter herdado muito mais dívidas do que os vizinhos e a serem, por isso, respeitosamente cumprimentados pelo porteiro da associação portuense dos grandes caloteiros. Onde, diariamente, subscreverão, na condição de proponentes, propostas de novos sócios que lhes serão apresentadas pelos interessados, instruídas com um inventário detalhado dos calotes dos candidatos.

A concessão de crédito não será balizada pelo património que se possuir: edifícios, automóveis, acções, namoradas, como qualquer vulgar industrial têxtil do vale do Ave. Ao invés será aferida em função das dívidas que se conseguirem acumular, para além das que tiverem sido herdadas. Do que se tiver ficado a dever ao Estado, à segurança social e aos trabalhadores. Mais empenhados, todos viverão melhor, como o Dr Alberto João. E continuarão prosperando! O montante dos calotes passará a constar dos cartões de visita, por baixo do nome e imediatamente antes dos oito títulos relativos a licenciaturas e a doutoramentos. Em que pelo menos metade serão sobre o calote, conferido pelas mais reputadas universidades nacionais e estrangeiras. Obviamente especializadas no calote! Os cartões de crédito terão limites avantajados e não estabelecerão pagamentos mínimos. Pelo contrário, imporão o limite mínimo para o dispêndio que, a não ser atingido, implicará a cancelamento automático, por incumprimento.

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial