14 de maio de 2004

Quase esgotadas as excursões para Gelsenkirchen

Portugal é um sítio feliz, à beira mar plantado. Pobrete mas alegrete! Facto de que não muitos outros sítios se podem orgulhar. E esta situação é bem melhor do que viver angustiado por problemas, confrontar-se com greves injustas e injustificadas, afogar-se em dívidas cada vez mais e cada vez maiores. É bem melhor do que ter que prevenir e combater os indomáveis fogos de Verão, ter que garantir a dignidade mínima aos desprotegidos, lutar contra elevadas taxas de analfabetismo, estimular os índices de natalidade.

O drama nacional, durante os próximos quinze dias, é saber se o país em peso caberá em Gelsenkirchen e no seu estádio para incitar os bravos do Futebol Clube do Porto contra o Mónaco. O cidadão não sabe quando são as eleições para o parlamento europeu, nem quem são os candidatos, nem tão pouco para que é que elas servem. Avesso à leitura, não folheou sequer o Ensaio sobre a lucidez, não ouviu falar no Sr Saramago e muito menos no voto em branco. Mas sabe de cor e salteado, apoiado pelo menos por três jornais diários, que o grande jogo é no dia 26, conhece o Jorge Costa, o Costinha e o Deco, sabe a idade de cada um, quantos filhos tem, em que ocupa os tempos livres.

Não é problema nenhum que o primeiro-ministro troque uma chata visita ao México, em que provavelmente nem iria a Cancun, pela presença em Gelsenkirchen. O que mais temos visto é propaganda das agências de viagens a oferecer a possibilidade de ir e vir no mesmo dia, com ou sem bilhete para o jogo incluído. É tudo uma questão de preço, fica mais barato a pronto mas há também quem venda a prestações, cobrando o juro devido. Agora uma coisa é certa! Os lugares nas excursões estão quase esgotados e há deputados que ainda aguardam o convite por um lado e a dispensa justificada por outro.

Se essas benesses lhes forem concedidas o país segue a arrasar o mamarracho das Antas - o que até era digno de condecoração! -, ruma a Figo Maduro a tomar lugar nos Falcons da Força Aérea, assalta o Sr Pinto da Costa a sacar-lhe o bilhete e reclama, com incomensurável sentido de justiça, a justificação da falta no emprego. Se ainda o tiver!

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