17 de maio de 2004

A Suiça e os referendos

A Suiça é hoje, mais do que ontem, uma pequena mancha isolada na Europa Central. Geograficamente pequena, mesmo assim cerca de um quarto da sua superfície é ocupada por neves a que nem o degelo primaveril acaba por valer. Mais de vinte por cento da sua população é composta por estrangeiros. O que sempre nos chegou, a seu respeito, é que se trata de uma país rico, composto por não sabemos quantos cantões, professando uma neutralidade militante e que fabrica relógios e chocolates. De precisão uns, de qualidade superior outros.

Não vemos reportagens de visitas de estado à Suiça, os seus governantes, que nos lembremos, não visitam regularmente o nosso país e não dispõem de forças armadas convencionais há muitos anos. Não nos chegam também ecos da agitação social diária e não consta que nenhuma equipa Suiça de futebol tenha ganho a Liga dos Campeões ou sido sequer finalista. Mas, apesar disso, o Jornal de Notícias de hoje reserva-lhe, na última página, uma curta notícia, a uma coluna, de pouco mais de uma dúzia de linhas, que achamos interessante transcrever.

Os suíços rejeitaram, por referendo, três projectos de alterações às reformas, ao aumento do IVA, bem como ao regime fiscal, medidas apoiadas pelo Governo e pelo Parlamento. Os eleitores recusaram, por 67,9 por cento dos votos, reformas prevendo, nomeadamente, que a partir de 2009, a idade de reforma passasse dos 64 para os 65 anos, como os homens, bem como uma redução das pensões das viúvas. Por outro lado, 69 por cento dos suíços disseram não a um aumento do IVA destinado a financiar as reformas e as pensões de invalidez. O Governo defendia o aumento de um por cento para as reformas e de 0,8 por cento para a pensão de invalidez. A reforma fiscal foi rejeitada por 65,9 por cento.

Quanto a nós, portuguesinhos, que nos esquecemos com facilidade de tudo, já se nos varreu o resultado do referendo que o governo do Dr Barroso realizou, antes de aumentar a taxa do IVA para 19 por cento. Embora ainda nos recordemos que o aumento se não destinou ao financiamento de coisa nenhuma mas, muito apenas, a diminuir a desgovernado défice orçamental. O nosso Estado, proprietário rico, deixa ao abandono e em petição de miséria um vasto património, de cuja manutenção nem sequer sabe cuidar. Enquanto permite, arbitrariamente, que ministros adquiram submarinos para patrulhamento das fronteiras e vendam, ao desbarato e a pagar tarde ou nunca, dívidas e monumentos em ruínas. Tudo, se necessário, com a aprovação do nosso parlamento rural e profundo. Mas vão à Assembleia da República, vão. Auscultem um a um os seus 230 deputados sobre o que pensam da extensão do referendo a um conjunto de matérias de maior interesse colectivo. Depois contem-nos as respostas que obtiveram!

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