7 de junho de 2004

Afinal o sistema é uma hidra do caraças

O sistema não gosta de pessoas como Dias da Cunha, que são como moscas em dia de boda.
...
O sistema que alimenta o futebol é primo do sistema que alimenta a política, que, por sua vez, é da família do sistema do qual se alimenta certa comunicação social.
[Rui Santos, Correio da Manhã]

Afinal o sistema sempre existe, tem mais tentáculos do que um polvo e acaba por condicionar tudo. O próprio Dias da Cunha já afirmara que o Sporting não ganhou o campeonato porque o sistema esteve a trabalhar desde a 1ª jornada. Não disse de que época porque, em boa verdade, pode ter sido até já desde a anterior ou até mesmo antes dela. A mais recente evidência da existência do sistema chega de Londres e do Chelsea onde o trabalhador mas humilde treinador José Mourinho já foi mais contido e apenas prometeu a vitória para os próximos quatro anos. No Porto, se bem se recordam, viajou por auto-estrada vindo de Leiria, puxou do canhenho, abriu o colarinho e proclamou: para o ano ganhamos o campeonato. E ganhou! O campeonato, a taça, a supertaça e a Uefa.

O sistema só foi parcialmente neutralizado por Augusto Inácio e por Lazlo Bolloni que, em todo o caso, não perderam pela demora nem cantaram vitória durante muito tempo. Agora, na época passada, o sistema nomeou árbitros que usaram apito dourado e que, sobranceiramente, validaram golos contra o Sporting ou contra o Benfica, de acordo com as conveniências. Foi tão empenhado o sistema que atirou com o João Vieira Pinto para o estaleiro, com uma clavícula ao dependuro e com o presidente do Benfica para fora dos estádios a pretexto de ter um motor a que faltava alguma compressão e que falhava nas subidas. O sistema contribuiu decisivamente para que o engenheiro Fernando Santos se enganasse nas prédicas de balneário, trocasse as orações e perdesse os amuletos no caminho para o banco. Quando decidiu ir a Fátima, como peregrino, enganou-se no itinerário e quando deu por ela já ia a caminho de Pombal. O sistema, obsessivamente vigilante, levou Ricardo a estar na baliza como se conduzisse o seu utilitário Porsche, com uma mão no volante e a outra, desportivamente, pousada na janela. Em consequência nem ele sabe bem o que virou galinheiro, se a baliza, se o Porsche. O sistema inutilizou a arma do pistoleiro Silva que não conseguiu mais do que uma fisga, de elásticos frouxos, para a substituir. E mesmo assim lhe faltaram as forças para os esticar.

Agora faltava esta globalização do sistema, a ser primo do que alimenta a política, como os dotes à professor Bambo permitiram constatar ao Sr Rui Santos. E vê-se! O sistema não poupa nada, nem os ministros do ambiente, do interior ou mesmo adjuntos. Tão pouco os autarcas ou os candidatos. O sistema, implacável, obriga. De forma ditatorial, impõe. Contra sua vontade o Sr Narciso Miranda vai ser candidato à câmara de Matosinhos, a Dra Edite Estrela candidata a Estrasburgo e o periquito do ministro da defesa candidato a secretário geral do partido do assédio aos lugares de feira. O sistema obriga um homem patriota e honrado como o Manel, a ficar à espera que lhe digam. E a andar ele, de porta em porta - salvo seja, que porta chegou-lhe uma e foi demasiado! - a anunciar a boa nova de que tem um partido novo, a estrear. O sistema consegue tudo: o pensável e o impensável. Ainda no sábado o primeiro ministro, no Porto, chegou a supor que discutia o preço da marmota quando de facto inaugurava a obra que ele disse ser a da legislatura. Enquanto no lado oposto chegou a sentir-se o Carlos Lopes a percorrer triunfalmente os derradeiros metros da maratona, sob trovoadas de aplausos e de incitamentos.

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