25 de junho de 2004

Avelino, o Pacificador

Com uma sentença óbvia e antecipadamente gerada com base na inseminação artificial, com o contributo empenhado de qualquer veterinário sacana, o arguido Avelino Ferreira Torres, conhecido presidente da Câmara do Marco de Canavezes, começou ontem a ser julgado por um tribunal cujo juiz, no mínimo, é menos sério do que ele alguma centena e meia de vezes. Ou mais! Até porque Avelino é do tipo macambúzio, interioriza muito os sentimentos e as emoções, e só se não contém quando os seus conceitos de justiça são autenticamente cilindrados. Por cilindro cuja pertença seja da Câmara e, de preferência, fora das horas de serviço, desde que operado por funcionário municipal no gozo de folga. Vai desta vez acusado do crime de incitamento à violência no decurso de um encontro de futebol entre o Marco e o Santa Clara, ficando de fora a acusação inicial de invasão de campo que, à altura, não era considerada crime. Era apenas cortesia para com as visitas, com o efeito terno de carícia!

Sem surpresa, Avelino rebateu todas as acusações. Até porque, como claramente se viu, as televisões tinham feito passar habilidosas montagens de laboratório em que, inclusivamente, houve o cuidado de inserir o "Directo" no cantinho superior. Depois porque lhe assistia sempre alguma razão e algum direito sobre o mobiliário que alegadamente terá pontapeado. Quanto mais não fosse porque ele próprio o adquirira, mesmo que eventualmente com receitas devidas à Câmara pela ocupação de bancas e lugares no mercado municipal. Além disso quem o conhece sabe bem que se trata de pessoa pacífica, temente a Deus e devoto de Nossa Senhora de Fátima a cujo santuário, em peregrinação, se desloca todos os anos. Utilizando o automóvel, o motorista e o combustível pagos pela autarquia com base no voto popular que o elegeu. Única estroinice de cada peregrinação: o repasto no conhecido restaurante Tia Alice, porque a suavidade da comida lhe protege a úlcera no estômago e o pesado do preço fica a cargo da tesouraria municipal. Por isso mesmo sempre aumentou generosamente o tamanho da vela que deixa acesa ao lado da capelinha das aparições.

Para que não ficassem dúvidas Avelino esclareceu a juíza que não irrompeu relvado dentro: limitou-se a entrar nele serena e tranquilamente, a convite da equipa de arbitragem, cujos elementos até já conhecia e um dos quais fazia mesmo o favor de ser seu amigo de longa data. Não barafustou com nada nem com ninguém: invocou os progenitores dos árbitros e limitou-se a rezar-lhes pela alma que, em alguns casos, encomendou ao Altíssimo. Não pontapeou placas nenhumas: limitou-se a afastá-las do caminho para que não fossem ingloriamente pisadas e corressem o risco de quebrar-se. Em boa verdade, como com sinceridade disse à juíza, limitou-se a entrar em campo apenas para evitar que houvesse merda.

Ao que consta a juíza sensibilizou-se com o altruísmo demonstrado pelo autarca. E corre pela caserna que no Largo do Caldas o Dr Portas se ocupa a redigir um segundo comunicado, garantindo que haveria Euro 2004 na mesma, ainda que o PSD tivesse perdido mais deputados nas eleições europeias. O Dr Nobre Guedes prepara um P.S. - salvo seja! - para acrescentar-lhe, garantindo que o sucesso do Euro seria muito mais evidente se o país todo, de alto a baixo e de norte a sul, fosse habitado por avelinos como o do Marco. Em vez de se ter enchido de bandeirinhas feitas na China, utilizando corantes que os industriais nacionais já dizem que fazem mal à tosse, encarecem a construção de moradias e tornam em miragem a sedução de namoradas eslavas, de olhos claros e longos cabelos louros.

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