21 de junho de 2004

O regresso do compadre Avelino

Por causa de um jogo de bola contra os castelhanos, que lá ganhámos depois de peregrinações a Fátima e importação de santos e rezas, o país distraiu-se e não correu a concentrar-se frente ao aeroporto a receber, como devia, o regressado autarca modelo formado na escola da vida e com mestrado feito na escola do Largo do Caldas. Avelino Ferreira Torres regressou ao Marco depois de uma extenuante viagem de trabalho aos Estados Unidos do senhor W. Bush, onde se viu na diária obrigação de pronunciar discursos, comer sardinhas assadas com pimentos e acompanhar o refrão das cantigas da Ágata e do Quim Barreiros.

Valeu-lhe à reputação meia dúzia de motequeiros arruaças que ele tem permitido que estacionem em transgressão e mais alguma dezena de amigos de peito, com quem andou na escola primária a errar nas contas e a dar erros no ditado e mais tarde, na vida, a emprestar algum dinheiro a juros para desenrascar alguma atrasada prestação da casa e que, reconhecidamente, lhe estão gratos para o voto incondicional e para o resto da vida. A organização, como habitualmente, ficou a carga da assessoria camarária. Discreta, experiente e eficaz. Tanto assim que o cortejo parecia mesmo mais numeroso e as fotografias do compadre Avelino, coladas com fita adesiva às portas dos automóveis, a brilhar de lavados, iam mesmo a matar.

Tal recepção obrigou Avelino a mais um discurso, à porta de casa, antes de se recolher ao conforto do lar doce lar, petiscar umas fatias de presunto acompanhado a broa e a verde tinto, porque se deve ser educado e agradecer aos amigos. Sem meias tintas anunciou que ia recorrer da sentença que o condenara a uma pena de três anos de prisão. Primeiro porque a sentença tinha sido pré-concebida. Certamente por inseminação artificial, como se faz com as vacas. Depois porque ele é mais sério do que as pessoas que o julgaram. Além disso, quem quiser que dê uma volta por Bragança de onde é natural a juíza que presidiu ao colectivo para se certificar de que ela ainda há pouco deixou de tomar leite. Enquanto ele, como macho latino, nunca provara nem leite, nem mesmo chá. Mesmo que, cá para nós, lhe fizesse bem, mesmo em adulto, um conhecido chá de Fafe, desde que a dose fosse substancial, que só assim resulta! Para depois concluir que vai renunciar ao mandato no Marco para preparar a eleição, arrasadora, a Amarante. Mas apenas porque assim quer porque ele tem mais poder do que aqueles juízes: tem o voto do povo.

Esperam-se agora, depois da ressaca provocada pelo golo contra os espanhóis, as declarações equilibradas e sensatas, de apoio incondicional e de sábia conduta política, dos correligionários Portas e Guedes. Os dois democratas mais conhecidos pelas peixeiras que, no bairro, ainda vendem porta a porta!

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