6 de julho de 2004

Neste país não se passa nada

Ontem desfizeram-se as últimas centelhas do Euro 2004. Até mesmo os cem gregos forçados a pernoitar ao relento de Lisboa, por falta de avião para o regresso, terão voltado a Atenas. Os jogadores ataviaram-se a rigor, de fato e gravata, como se fossem casar-se aos Jerónimos ou a Fátima. Rumaram a Belém, para o almoço. Onde, por entre lágrimas furtivas e discursos, o presidente Sampaio distribuiu condecorações. Como se os rapazes encobrissem nos fatos a heroicidade de um trolha a subir e a descer andaimes, à custa do salário mínimo, para subsistir e mandar à escola meia dúzia de gandulos que se acumulam num barraco periférico.

Depois, à noite, por falta de motivo, a televisão entreteve-se a entrevistar um gajo conhecido das docas e da presidência do Sporting. Último e único emprego que se lhe conhece, às ordens do Dr. José Roquete. Com o cabelo que lhe resta empapado em brilhantina, afivelou um discreto sorriso Pepsodent e enfrentou as câmaras como se gravasse um anúncio para peúgas, com o cachet já previdentemente arrecadado. E disse ele que o governo que aí vem deve incluir pessoas de todos os pontos do país, de Melgaço a Vila Real de Santo António. Passando pela Camacha e chegando à ilha do Corvo. Não esquecendo os pastores da transumância, se ainda habitarem a Serra da Estrela.

Realmente neste país não se passa nada de importante. Se até o primeiro-ministro emigra para jogar no estrangeiro…

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