26 de julho de 2004

Santana: o homem incompleto

A revista Grande Reportagem, que passou a ser distribuída com o Jornal de Notícias, Diário de Notícias, Açoriano Oriental e DN (Madeira) inclui na edição de sábado passado, dia 24, um trabalho assinado por Torcato Sepúlveda que, lamentavelmente, não pode ser encontrado on line. Mas, mesmo assim, não deixam de merecer destaque especial as seguintes passagens:

O seu quotidiano é caótico. Divide-o entre a política, os negócios e o ensino - só começando a trabalhar depois das 11h00 da manhã - e as noites tempestuosas nas discotecas de Lisboa e do Algarve. Participa num cruzeiro pelo Mediterrâneo, surgindo nas fotografias das revistas cpr-de-rosa com um colorido lenço em volta da cabeça, à maneira de um pirata. Apaixona-se por uma jovem cujo pai ameaça dar-lhe um tiro de caçadeira. As zangas e reconciliações com Cinha Jardim são cíclicas e passam a integrar a liturgia das crónicas mundanas nacionais.

Um político africano que o teve como professor na Faculdade de Direito de Lisboa, não resiste à comparação com Marcelo Rebelo de Sousa:
Marcelo é sabedor, estudioso, brilhante. Santana nem preparava os pontos que nos marcava. Não compreendo a direita portuguesa - entre o génio e o preguiçoso, prefere o preguiçoso.

Fora da política, as experiências redundavam em fracasso, como a presidência do Sporting, direcção da qual saiu corrido e acusado de despesismo e ineficácia; ou a sua passagem meteórica pela Amostra, departamento de sobdagens da Universidade Moderna... A sua presença na comunicação social torna-se obsessiva, desde jornais até televisões... Chega ao ponto de caricaturar o próprio desejo quando participa no programa A Cadeira do Poder, da SIC, onde perde o lugar de primeiro ministro virtual para José Manuel Torres Couto e o apresentador, Artur Albarran, lhe entrega um cheque em directo.

Em Dezembro de 2001 ganha a presidência da Câmara de Lisboa. Prometeu tudo a toda a gente: u túnel no Marquês de Pombal que permite a entrada de mais automóveis em Lisboa; o fecho das faixas laterais da Avenida da Liberdade, enquento toda a via não pudesse ser encerrada ao trânsito; tornar o transporte público fashionable, proibição de automóveis em certos bairros históricos, mas parques de estacionamento por todo o lado; hotéis de charme e esplanadas no Terreiro do Paço; recuperação do Parque Mayer, com regeneração da revista à portuguesa; liberdade para a iniciativa privada, mas ameaça de expropriação aos proprietários que tardassem na rcuperação dos seus prédios; casas para jovens no centro da cidade e regresso em quatro anos de 200 mil pessoas que haviam abandonado a capital; piscinas, pavilhões desportivos e jardins em todas as freguesias; e, cereja em cima do bolo para alegrar até a extrema esquerda, a possibilidade de salas de chuto. Que resta hoje destas promessas?

Depois disto apenas se não compreende como Miguel Sousa Tavares, depois do Tabagismo e do FCPortismo, adquiriu outro vício extremado: o Anti-Santanismo. Afirma, com total desplante, que «Santana tornou-se possível essencialmente por culpa nossa, dos jornalistas, entre os quais directamente me incluo. Sempre lhe desculpámos o vazio ...». Ora isto é absolutamente falso: todos os jornalistas dos jornais de opinião sempre embirraram com Santana Lopes, sempre o abominaram, sempre zombaram dele como vítima da exclusão cultural.



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