27 de setembro de 2004

Decrete-se sobre a obrigatoriedade da queca

Penalize-se o uso do preservativoUma espécie de falso pânico instalou-se hoje no país, no seguimento da divulgação dos resultados de um estudo realizado pelo Instituto de Ciências Sociais e que constata que, em quarenta anos, as mulheres portuguesas passaram de uma média superior a 3 filhos para metade disso. De uma forma geral a realidade está diariamente à vista de todos, bastando que se esteja atento. O estudo realizado sistematiza a recolha de dados, dá-lhes tratamento, interpreta os resultados.

É surpreendente é que a comunicação social tenha desatado no berreiro habitual, salientando que o estado nem fez, nem faz nada para contrariar a situação. Os índices de natalidade, ao nível a que se encontram, não asseguram a substituição de gerações. Ou, linearmente, o número de mortes será superior ao número de nascimentos e a população, cada vez mais envelhecida, irá decrescendo.

Pergunta-se o que é que o estado deve disciplinar primeiro: as mortes ou os nascimentos? Se se entender que se deve decretar a redução das mortes o estado deve proibir a morte a qualquer título, incluindo a que descontroladamente ocorre nas estradas e ainda a que decorre das pensões miseráveis que garante aos reformados. Não adianta aplicar coimas violentas aos potenciais assassinos, é preciso ir mais além. E proibir mesmo que se morra de velhice, uma razão muito utilizada pela classe médica na emissão dos certificados de óbito.

Caso se entenda que se deve decretar sobre a fecundidade das mulheres, devem recuperar-se as ideias do Sr João Morgado, antigo companheiro de partido do Dr Paulo Portas, que sabiamente referia, para escárnio da D. Natália Correia e de metade do país, que o acto sexual era para fazer filhos. Assim sendo - e o ministro da presidência o dirá, depois de se aconselhar com o primeiro ministro que sobre o assunto tem indiscutíveis competências -, deve realizar-se um congresso sobre o assunto e fomentar-se fiscalmente a prática da queca. E penalizar-se ferozmente tudo aquilo que lhe contrarie os objectivos, nomeadamente a aquisição de preservativos e da pílula.

Agora há uma coisa que verdadeiramente nos aterroriza. O estado, tenha a cor política que tiver e pese na economia aquilo que pesar, enche o diário da república com leis e regulamentos que mais não fazem do que foder-nos a todos. E então isso não chega? Vai agora emitir leis, decretos e portarias que nos obriguem a foder-nos uns aos outros? Ainda mais do que já se faz? Pasmamos! Mesmo que isso possa ter a aprovação dos párocos de freguesia e até dos bispos, será que a medida se enquadrará assim, sem repulsa, no espírito cristão do país e dos órgãos de soberania?

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