22 de setembro de 2004

A febre carraça e os inquéritos parlamentares

Sobre os problemas da educação e as trapalhadas da desconseguida colocação de professores já não sobram comentários para fazer. De modo verrinoso, um algarvio dos três que reclamam a autonomia para o território e o liberalismo radical no balneário do Alvalade XXI, sugere mesmo que a Casa da Música, no Porto, será o novo símbolo das obras que nunca chegam ao fim. Permitindo, ao fim de tantos anos, que seja batido o recorde das obras de Santa Engrácia e que esta, justa e catolicamente, possa aposentar-se e beneficiar de uma pensão calculada pela bitola de Mira Amaral. Apenas pelo facto de, com transparência e isenção, como aliás sempre tem acontecido em todos os pormenores que se referem ao projecto, Couto dos Santos ter sido empossado como presidente do respectivo conselho de administração. A Casa da Música é uma obra emblemática, ponto final. Não há desvios no calendário e não se conhece sequer o conceito de derrapagem financeira. Como mecenas os administradores quase trabalham pelo custo da alimentação sendo certo que, por razões de proximidade, apenas frequentam as marisqueiras de Matosinhos. Os actuais desempenham os cargos quase em obediência aos laços de amizade que os une a Rui Rio. São com ele unha com carne, assim ao jeito de Narciso Miranda e Manuel Seabra. E sabe-se da sua apregoada sovinice, quase a descobrir-lhe a costela judia: só paga razoavelmente ao seu chefe de gabinete. E mesmo assim muito pouco mais do que o deficitário orçamento de Bagão Félix paga ao inquilino de Belém.

Mas que analogias levam ao título deste post? Em boa verdade e aparentemente, rigorosamente nenhumas, a não ser o absurdo. Tanto quanto se sabe a febre carraça não é frequente nos dias que correm, ao nível de países desenvolvidos que, como este, é convictamente europeu, tem deputados em Estrasburgo, forneceu um presidente para a comissão europeia e, decisivamente, enviou uma centena de militares da GNR para, pacificamente, implantar a democracia no Iraque. Já assim não acontece com os inquéritos parlamentares que a oposição, em uníssono, passa os dias a requerer no parlamento sobre todas as questões e com a mesma e única inútil perspectiva: a do lançamento imediato para o cesto dos papeis. Porque a sua viabilidade nem sequer é analisada pela maioria que às vezes se reúne em plenário para o voto e mensalmente se alinha nas máquinas do multibanco a assegurar-se de que lhes terão já sido pagos os sofríveis honorários que recebem por tanto honrarem a instituição e o país. Linearmente, sobre a conveniência e a oportunidade dos inquéritos é o imigrante Guilherme Silva que dispõe.

Depois, ao que parece e desde que diagnosticada, a febre carraça é inócua desde que combatida com um vulgar antibiótico. Raramente mata, a não ser em países do terceiro mundo onde a sua aparição é mais frequente. E em Portugal ainda se tem memória de que o último cidadão a associar-nos ao terceiro mundo foi Melo Antunes. Como também se sabe que isso lhe não melhorou o currículo, não facilitou promoções, não ofereceu cargos e subsistem mesmo dúvidas se, em parte, não terá morrido vítima de tal heresia. Os inquéritos parlamentares são, ao invés, coisa séria, que vasculham recônditos aspectos e se debruçam sobre ínfimos pormenores durante tempos intermináveis. Concluindo sempre que ainda não concluíram e que, para satisfação de Álvaro Barreto, nunca acabam. Quem inquire, se estiverem atentos, fá-lo sempre envergando fato e gravata, o cabelo domado à força de gel - o dos não carecas, é claro! - e com o aspecto grave de quem decide sobre a reeleição de W. Bush, a captura de Bin Laden ou a interdição de Cat Stevens. O tratamento é sempre por vossa excelência, em obediência ao regimento e a Mota Amaral. Nem José Castelo Branco ou Paula Bobone são tão formalmente protocolares!

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial