23 de setembro de 2004

O governo decreta o fim das mortes na estrada

Uma caterva de sábios ocupou-se durante uma infinidade de horas a pensar e a redigir catervas de palavras, frases, artigos e secções dando satisfação a encomenda de um sucessivo conjunto de governantes. Estes levaram ontem o nascituro ao parlamento onde o baptismo, santo e cristão, será oportunamente celebrado com óleos e unguentos enriquecidos com aloé vera, para protecção da epiderme do infante e conforto das mãos dos oficiantes.

O fim da morte nas estradas. Por decreto!Já tem nome: chama-se código da estrada e a escolha dos padrinhos esbarra na fila interminável dos pretendentes e voluntários. E também, sabiamente, tem um único e enorme objectivo: por fim, por decreto, à elevada taxa de mortalidade que é a imagem de marca das estradas portuguesas. Seguindo um método simples e linear que tal é o de aumentar o valor das multas - coimas, na versão erudita - a limites que, depois, impeçam os infractores de pagar atempadamente a prestação da casa e de adquirir os cadernos escolares para os filhos.

O sucesso está antecipadamente garantido em duas grandes vertentes. Por um lado, aumentará as receitas do orçamento de um conhecido adepto do Benfica, requisitado para ministro, auxiliando-o no controlo do famigerado défice. Por outro, reduzirá progressivamente a mortalidade nas estradas, simplesmente à custa da falência dos condutores. Sairia de facto muito mais dispendioso ensiná-los a conduzir, incutir-lhes algumas regras básicas de civismo, sinalizar convenientemente as estradas ou até limitar tecnicamente a velocidade a que os automóveis correm para a bandeira de xadrez.

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