20 de setembro de 2004

O regresso

Regresso e sento-me. Para descansar e para esperar, que há coisas que demoram e é melhor não facilitar a aparição futura de varizes. Lentamente vou recomeçar a contactar com as coisas do dia a dia. Durante este intervalo de tempo não acedi à rede, nem sequer para ver o correio e ir apagando os resíduos virtuais, tóxicos e mal cheirantes. A caixa transborda e há mensagens a oferecer de tudo. De planos individualizados de reforma a sexo, em todas as posições e de todos os géneros. De permeio com drogas miraculosas que nos levam a resistência a correr duas maratonas seguidas, embalar em preliminares de hora a hora e manter, sem descontinuidade, o desempenho de duas dúzias de garanhões na pujança da vida. Sem pre-ejaculações!

Não ouvi rádio e mantive, inalterado, o português meio bronco que trouxe da escola. Felizmente continuam em actividade o Gabriel Alves e o Jorge Perestrelo e nunca é tarde para aprender. Português e futebol, mesmo que eu desista do segundo porque cada comentador sabe, pelo que ouço, o triplo do José Mourinho, o sextúplo do José António Camacho e dez vezes mais do que o Dr Dias da Cunha e o seu sistema completo. Nem sei como Edite Estrela vende manuais, mas deve impingi-los aos coitados que, como ela, se sacrificam em Estrasburgo por melhor futuro e menor carga fiscal.

Não vi televisão e não sei se andam à solta mais celebridades do que andavam quando parti à procura de um tasco barato que fosse capaz de me servir uns sargos frescos, bem grelhados, com salada de tomate - montanheira, lhe chamam em Vila Nova de Cacela -, algures no sotavento onde, às vezes, também aparecem
jaquinzinhos. Quase nada olhei para jornais, mas dei pelo regresso de férias de José Manuel Fernandes pelo nome a subscrever um espaço público que, asseguro-o, não li vez nenhuma. E acho que, desta, esteve bem em todas!

Rapidamente me apercebo de que na refinaria de Leça ainda não houve nenhuma outra explosão e tomo conhecimento de que o ministro Mexia não foi responsável pela anterior de que, vagamente, ouviu falar. Porque, segundo parece que disse, não era afinal ele que mexia. Ouço que vão gastar dinheiro com eleições na Madeira e nos Açores, o que vai agravar os orçamentos regionais e, em breve, o Alberto João amarrará uma gravata ao pescoço, envergará um casaco mal cortado por cima da camisa esbarrigada de todo e virá ao continente, a apresentar a factura e a reclamar a cobrança. Podiam logo actualizar-lhe a renda na condição de utilizador-pagador, que quer dizer que quem leva a garina para a cama é que paga o serviço da quiteta. Narciso continua o rei da lota e o Seabra, parece, ameaça arremessar-lhe com carapaus a cheirar a fénico, fora de prazo. Ainda politicamente o PS continua com três candidatos a secretário-geral, discutindo entre si qual o mais socialista, qual o que chuta com ambos os pés ou qual o que escreve poemas de amor e raiva empunhando uma esferográfica barata com a mão esquerda ou fustigando as teclas de um computador com o indicador da mão esquerda. Gritando que é candidato a tudo, de primeiro-ministro a secretário de estado e, se o obrigarem, até a deputado da nação. É de tesos, na verdadeira acepção da palavra, que não do bolso a tinir de vazio.

Ainda não sei se a Fernanda Serrano já está grávida, se é menino ou menina, se já há nome para o crianço e padrinho para a pia batismal. Não sei se o Zé Maria vai poder ir às festas de Barrancos, se lhe derem boleia para poupar o dinheiro da camioneta, e se fica para as vindimas ou se regressa logo a cumprir as obrigações sociais a que o protocolo e a celebridade obrigam. Menos importante, tomo conhecimento de que a Casa da Música continua de vento em popa, sem atrasos e sem deslizes, com Rui Rio travestido na condição de accionista minoritário, de administrador e até de presidente do conselho de administração. Fiel ao rigor da contenção, sem gastar um tostão, para poder pagar a tempo e horas as ajudas de custo e o subsídio de refeição ao seu chefe de gabinete.

Sei, por aí fora, que o
Zecatelhado organizou um jantar muito concorrido e muito badalado. Mas em Lisboa, como não podia deixar de ser: sulista, elistista e liberal como dizia o Dr Menezes que mora na margem sul e é sportinguista. Pelas fotografias vejo que o Zeca posou depois da janta enquanto o Paulo o fez antes dos entretantos. Maguérrimo, como diriam as tias da etiqueta e da linha. Amanhã, de certeza, já vou saber mais qualquer coisa. Quanto mais não seja saber que, por uma noite, o Dr Dias da Cunha estraçalhou o sistema que viajou do Funchal, mascarado de verde e vermelho.

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