30 de outubro de 2004

Cemitério de Coimbra: concurso público

Com os ventos de feição, sempre que o browser ajuda - o que é mais difícil -, navego à bolina por aí. Tento chegar às mesmas bóias do percurso para virar primeiro, finco-me a estibordo, sinto o salpico nas costas e a maresia nas ventas. Por mais vezes que desconsiga, não destento: retento. Uma das bóias que sempre passo, cabo das tormentas ou promontório da boa esperança, é essa causa deles.

Por ali mora gente muito ilustre, fina de trato, erudição bastante, areia de mais para uma camioneta velha habituada às livres savanas de África e às picadas das terras do fim do mundo. Vital Moreira, académico reconhecido e deputado desistido, posta por lá. Não discuto o que deixa escrito, quem sou eu, já me basta o esforço de perceber, tantas vezes desconseguido como a bóia a balançar por cima das ondas. Que me vira a embarcação de patilhão para o ar e me encharca os ossos com excesso de maresia e de salpicos.

Hoje vão por lá só para este absurdo divertimento do caso surrealista antes que as anedotas cheguem todas do congresso de Oliveira de Azeméis, com a Pensão Suiça e Ferreira de Castro ali tão perto, na freguesia de Osela. A Câmara Municipal de Coimbra abre concurso para a admissão de dois coveiros, com contrato a termo certo, por seis meses. É requisito obrigatório a escolaridade mínima e dá-se preferência a quem já possua experiência profissional no desempenho das funções. O processo de selecção incluirá avaliação curricular e entrevista.

Não vejo que possa espantar-se seja quem for e menos ainda o professor Vital. De espantado basta o Dr Pacheco, e mesmo esse só às vezes. O concurso pode não ter explicação científica e não exigir cálculo matemático complexo como o que, mentalmente, fazia o engenheiro Guterres. Mas tem explicação linear e raciocínio raso. Seguramente que em campanha o Dr Encarnação prometeu reduzir a zero o índice de mortalidade no concelho. Está a cumprir: dois gajos, em seis meses, vencendo pela letra V, com direito a subsídio de refeição, deverão ter concluída a tarefa de enterrar toda a gente. Mortos importantes não podem, mesmo no Portugal dos pequeninos, ser enterrados por analfabetos, suprema humilhação. Deve exigir-se profissionalismo, fomentar a produtividade, avaliar as capacidades, exigir competência.

O Dr Encarnação fará parte do júri. O digno vereador do pelouro também. Em representação da clientela, satisfeita e fidelizada, que morto irão eles nomear? Irão importunar o D. Afonso Henriques?

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