4 de outubro de 2004

A época de caça

A selvajaria da caçaQuem ontem, primeiro domingo deste Outubro que começa de veraneio, se fez à estrada, facilmente se apercebeu de que a selvajaria da caça estava de regresso. Depois da interrupção do estio, para ir a banhos, tostar a carantonha e deixar crescer as vítimas, as jaulas transportando rafeiros e mal alimentados cães percorreram o país atreladas a todo o tipo de veículos.

Ao fim da tarde era o regresso, com os troféus, selvaticamente mortos, pendurados pelas pernas na parte superior das jaulas que também traziam de regresso mais exaustos e mais esfaimados cães, conformados com a triste sorte e a alta segurança das gaiolas.

Não compreendo que heroicidade se exibe estrada fora, a uma velocidade superior aos 120 quilómetros do código, quando se penduram pelas pernas, mortos, três magros coelhos, com o pêlo jovem e ensanguentado. Vencidos numa luta desigual e de modo traiçoeiro por um inimigo tendo mais de cinquenta vezes o seu peso, com a ronha de uma idade oitenta vezes superior à sua. Contando com armamento capaz de submeter Bin Laden e recorrendo ao desvairado auxílio de vira latas adestrados na traição e no ataque cobarde.

É um valente o arrojado caçador. Que com tiros nem sempre certeiros mas sempre aos pares, põe termo à vida curta de coelhos mal criados e se senta à mesa de muitos restaurantes de que faz retiro, onde se vai empanzinando de enchidos caseiros, substanciais cozidos à portuguesa, empurrados à força dos melhores tintos. Antes dos doces solenes dos conventos e do aromático café arábica importado do Brasil.

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