29 de novembro de 2004

O aviário

No Portugal profundo, em pleno nordeste transmontano onde a cultura da couve tronchuda e a confecção da suculenta posta à mirandesa continuam a ser apreciadas, - faça-se, já agora, publicidade a Sendim e à tradicional casa Gabriela! - o primeiro-ministro foi inaugurar três euros de portagens e fazer uma incursão rural empunhando a rabiça do arado. Saiu-se como se esperava que saísse, nem melhor, nem pior do que qualquer das estrelas Lux do quintal dos ranhosos: não sei se diga, não sei se fale, não sei se grite!

Adaptando-se à terminologia rural e beneficiando da sua passagem por uma qualquer escola agrícola das redondezas, afirmou que o governo é de aviário e está choco. Como se sabia já nem as galinhas se reduzem às curtas expectativas de se agacharem na cesta colocada ao canto do galinheiro, aconchegarem-se aos ovos que galos à antiga previamente fecundaram e ficar a aguardar que trémulo, macio e frágil o pinto rompa a casca. Hoje os ovos colocam-se dispostos no tabuleiro de uma chocadeira, sob aquela irritante luz mortiça e os pintos nascem naturalmente como filhos de pai solteiro. Não se imagina que mesmo um pinto possa indicar uma chocadeira como sendo sua mãe ou que esta, inerte e morta, possa reivindicar a maternidade como fez o Dr Menezes em relação à estrada de Francelos.

Mas o Dr Santana apenas alterou a linguagem adaptando-a à ruralidade do complexo agrícola do Cachão. Não veio dizer nada de novo. Nem ele nem o ministro que tinha, entre outras, a competência política para receber a direcção do Benfica e verificar-lhe os trabalhos de casa, deitando pela janela fora os inúteis e os mal feitos. Tirando isso veio apenas dizer que é feio e pouco ou nada cristão bater no ceguinho. Não se aceita de facto que os irmãos a quem Deus não privou da visão se entretenham a dar-lhe chapadas e estalos sem que ele possa ao menos saber de que lado caiem. Assim sendo, melhor é que o Dr Sampaio o resguarde, como tanto gosta de dizer. Porque senão nem sequer chega à beira da manjedoura onde lhe seria servida a primeira ração e fornecida a primeira bebida. E, à cautela, é mesmo melhor resguardá-lo de vez!

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