9 de janeiro de 2005

Incompetência

Por muito que isso nos custe, há que admiti-lo. Para pensar inutilidades, pronunciar discursos circularmente vazios e sugerir sem decoro o disparate basta que se seja presidente da república, ministro, secretário de estado ou mesmo parlamentar.

Para se pensar alguma coisa de forma objectiva, medir as palavras e os silêncios e criticar sem complacência aquilo que se pensa, se diz e se sugere de mau, é preciso ser-se muito mais do que isso. Tem que viver-se de um emprego remunerado abaixo da média europeia, que ter filhos em idade escolar e comprar-lhes os livros, descontar para a segurança social e para o IRS, adoecer e não ter médico de família, pagar consultas a médicos privados, adquirir medicamentos sem comparticipação, pagar portagens nas auto-estradas ao preço dos relógios da Rolex, usar carros de gama baixa durante mais de doze anos, a beberem gasolina ao preço das bebidas importadas, contribuir para minimizar a crise do grupo Espírito Santo e para expandir a fé do engenheiro Jardim Gonçalves.

O avanço da idade leva-nos a todos à senilidade. Os políticos fazem de nós todos senis muito mais rapidamente, enquanto nos esfolam, enquanto pensam que nos enganam, enquanto à nossa custa vão ampliando o seu leque de privilégios e apregoando a crise económica e a fragilidade das finanças públicas. Fomentando a criatividade e encobrindo a ilegalidade e a fraude.

Custa verificar a senilidade do nosso presidente da República, quando de si se construiu uma imagem de ponderação e de bom senso, atributos de cujo uso tem ultimamente exorbitado. Agora essa de sugerir pactos alargados entre o PS e o PSD é como promover a fusão globalizante de duas quadrilhas de Ali Bábá, cada uma com a sua colecção salteadores e de ladrões. Disputando entre si o cargo de chefe. E querer promover o alargamento dos mandatos é como pretender instituir a ditadura pela hipócrita via do voto. Sem ser capaz de pensar que a esmola pode conduzir ao prato de sopa, mas nunca leva ao reconhecimento. E ainda bem!

Goste-se ou não, tem razão o Dr. Vasco Pulido Valente. E por ser incómodo é ele um mal amado de toda esta gentalha que não tem cara e, por isso, não pode ter vergonha. Porque o sistema precisa de facto de novas regras. E novas regras apenas se conseguem com novos intérpretes! Razão tem também o Dr. Soares velho, sobre aquela afirmação pela qual muito foi criticado. Sabendo quem mais o criticou que, naquilo que disse, está também rigorosamente certo.

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