15 de fevereiro de 2005

Luta livre americana

Hoje realiza-se o único debate com a presença dos cinco maiores partidos com representação parlamentar. Por quanto se viu no período de pré-campanha, no anterior debate com a presença de Santana e Sócrates e no período de campanha já decorrido, um só debate é excessivo. Mascara-se o acto de democracia, sentando à mesma mesa quem tem 105 deputados, como o PSD, com quem dispõe de apenas 3, como o BE. Os partidos sem representação parlamentar, bem como os eleitores, ficam de fora. O sistema político limita-lhes a participação cívica à deposição de um papel num caixote de madeira, em data fixada pelo Presidente da República, e o forçado retorno à apagada e vil tristeza de todos os dias. Até ao próximo acto eleitoral.

Depois, como sempre, já se sabe quais serão os partidos mais votados e de onde sairá a semente do novo governo, que não governo novo. Além disso, as mais profundas e objectivas ideias que os senhores têm sobre as propostas para o país esgotaram-se nos primeiros quinze minutos que lhes foram dados para que as expusessem. Se disso restassem dúvidas, basta que se atente um pouco nas perguntas que o Jornal de Notícias desafiou cada participante a endereçar aos restantes e que não estão em linha.

Santana Lopes - não enviou perguntas, pelo que se assume não ter nada a perguntar a nenhum dos seus opositores políticos. Sabe já tudo sobre cada um. Mandou certamente espiões aos comícios e aos almoços e jantares da concorrência, que se empanzinaram à borla e recolheram indicações preciosas sobre os pontos fortes e fracos no ataque a na defesa. Ficaram sempre até ao fim, não prescindiram sequer dos digestivos, e têm justificação psicológica para os três golos sofridos pelo Sporting no Funchal e para os cinco marcados ao Rio Ave no domingo passado.

José Sócrates - comportamento idêntico ao de Santana Lopes, que se apresta para substituir como treinador da equipa principal. Sabe quantos pontos já perdeu o Futebol Clube do Porto no estádio do Dragão, quantos golos sofreu e os minutos a que foram marcados. Conhece os erros dos árbitros e tem presentes os fora de jogo não assinalados e os frangos do campo saídos da quinta que Vítor Baia possui nas praias a sul da foz do Douro.

Paulo Portas - enviou uma pergunta para cada um dos seus opositores, sendo que a nenhum ousa perguntar a data de nascimento de José Mourinho. Mostra-se preocupado com os impostos que os reformados, beneficiários da pensão mínima, terão que suportar para pagamento da Via do Infante e das férias do "jet set" na Quinta do Lago.
  • Para José Sócrates:

  • Como conseguirá pagar as SCUT sem que isso signifique mais impostos para todos os contribuintes?

  • Para Santana Lopes:

  • Que pergunta gostaria de me fazer?

  • Para Jerónimo de Sousa:

  • O PCP defende a saída de Portugal da OTAN e é contra o actual modelo da União Europeia. Saberá os custos dessas medidas para o país?

  • Para Francisco Louçã:

  • Quando aceita esse factor elementar que é a existência da Aliança Atlântica?

    Jerónimo de Sousa - mandou também uma pergunta para cada um, mostrando-se especialmente preocupado com a situação de desemprego que se adivinha para Santana Lopes.

  • Para José Sócrates:

  • Que ideia é essa de um partido socialista propor o aumento da idade de reforma além dos 65 anos?

  • Para Santana Lopes:

  • Que vai fazer depois da derrota nas eleições?

  • Para Francisco Louçã:

  • Que lhe passou pela cabeça para fazer aquele disparate de afirmação perante Paulo Portas?

  • Para Paulo Portas:

  • Fala tanto das coisas positivas do seu Governo e porque esconde as graves responsabilidades que teve nas acções negativas?

    Francisco Louçã - Também uma pergunta por cabeça, não lhe escapando a importância fundamental da opção nuclear da Coreia do Norte relativamente à produção de fenómenos do Entroncamento.

  • Para José Sócrates:

  • Vai manter o projecto dos hospitais PPP, incluindo os concursos já iniciados em Loures e Braga?

  • Para Santana Lopes:

  • Vai apoiar a candidatura de Cavaco Silva, depois de ser derrotado nas legislativas?

  • Para Jerónimo de Sousa:

  • Como comenta a opção nuclear da Coreia do Norte?

  • Para Paulo Portas:

  • Defendeu quotas para os emigrantes. Como explica que o seu Governo só tenha autorizado três emigrantes de Janeiro a Setembro de 2004?

    Fico eu próprio ansioso e quase não lamento não ver hoje o Malato a fazer perguntas no um contra todos para assistir a este género inútil de luta livre americana de todos contra todos. A minha empregada doméstica, que já reivindicou a internet, apavora-se com a perspectiva do Portas vir a ser de novo ministro e autorizar a entrada de mais alguns quatro emigrantes vindos de leste. E mesmo a minha cadela boxer, com tanta ansiedade à sua volta, anda numa roda-viva. Certamente na dúvida por não saber se alguém se terá lembrado de que ela também precisa de ração para sobreviver.

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