21 de fevereiro de 2005

Pelo Porto



Por uns momentos e por diferente razão voltemos ao acto eleitoral de ontem. Apenas por causa do concelho do Porto. Aparentemente a circunstância passou despercebida, mas não deixa de ser espelho da realidade. Entre 2002 e 2005 o Porto perdeu 7.249 eleitores, correspondentes a 3 por cento do eleitorado. A comparação, freguesia a freguesia, consta do quadro acima. A variação, em termos absolutos, vai de um aumento de 34 eleitores em Ramalde a um decréscimo de 1.254 no Bonfim. Em termos percentuais o crescimento é de 0,1% em Ramalde e o decréscimo maior de 12,8% na Sé.

Tanto se tem falado na Porto Vivo, no Metro na Avenida da Boavista, no Palácio do Freixo que muito mais - e muito mais importante - se tem deixado passar como se fosse uma circunstância menor. A Porto Vivo é apontada como a solução miraculosa que a vereação tirou da cartola e a reconstrução - ou o neologismo requalificação - anuncia-se de imediato para a Praça de Carlos Alberto. A bem da indústria da construção civil, do ajuste directo e da especulação imobiliária.

Mas as pessoas, creio eu, sempre precederam as cidades. São as pessoas que as constroem e não o inverso. Em Carlos Alberto, e genericamente na área a abranger pela Porto Vivo, as pessoas serão escorraçadas do seu poiso de muitos anos, sem garantias de regresso. Como se fosse Esparta, o Porto decreta o desenraizamento dos seus habitantes, aumenta-lhes a depressão, apressa-lhes a morte. O Porto que é uma cidade velha, decrépita, ao abandono. Os prédios em ruínas estão por aí, de Santa Catarina a Sá da Bandeira, do Bonfim a Santo Ildefonso, da Sé a Cedofeita.

Não sendo sociólogo e não tendo pretensões, o primeiro problema do Porto é uma questão de demografia. É, depois disso, uma inumerável série de décadas de abandono, sem cuidados primários e sem preservação. O Porto, tal como está e se tiver o mínimo de bom senso, envergonha-se de ser património mundial. E tem razões para isso. As obras são de fachada, pagas com o dinheiro dos contribuintes como gostam de dizer os políticos. Enquanto se ultima a Casa da Música deixa-se que as Fontaínhas vão pela ribanceira abaixo.

Não sou entendido no assunto e não tenho responsabilidades políticas ou sequer profissionais que se relacionem com isto. Mas respeito o meu passado, venero as minhas origens, orgulho-me de quem teve a visão de mandar abrir as ruas por onde me passeio ou plantar as árvores a cuja sombra se acolhem, no Verão, sexagenários grupos de sueca. Por isso me dói tanto a destruição e o abandono daquilo que é património colectivo. Daquilo que, de facto, deveria ser respeitado como património mundial.


Post scriptum (à cause des mouches!) - o nosso vizinho O Vilacondense, que visitamos diariamente e que tomámos a liberdade de incluir num grupo de "links" com o sub-título "Praça Nova", deu-se ao cuidado de fazer esta mesma comparação em relação aos concelhos limítrofes do Porto. Onde o número de eleitores, no mesmo período, invariavelmente aumentou. O que permite consolidar as conclusões deste "post" e, eventualmente, extrair outras. Também concludentes!

3 Comentários:

Às 11:45 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

"Em Carlos Alberto, e genericamente na área a abranger pela Porto Vivo, as pessoas serão escorraçadas do seu poiso de muitos anos, sem garantias de regresso."???...

 
Às 10:20 da manhã , Blogger LFV disse...

Se, por exemplo, um qualquer anónimo morasse há 40 ou 50 anos numa casa meio degradada e tivesse 70 ou 80 anos sentir-se-ia escorraçado mesmo quando o "realojassem" na suite presidencial de um cinco estrelas da Av. da Boavista!

Quanto à ambiguidade dos três pontos de interrogação aparentam uma questão. Apreciaria muito mais do que isso a correcção e o esclarecimento sobre o que está insuficiente ou incorrectamente dito.

Já o "anonymous" é perfeitamente irrelevante.

 
Às 7:52 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

E em Vila Nova de Gaia? Como foi a votação? Por acaso sabes? Jinhos :-)

 

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