22 de março de 2005

Arrufos tripeiros

Enunciar as anedotas todas que o Porto tem hoje espalhadas pela cidade, a céu aberto, garantiria de imediato a passagem à reforma de Ricardo Araújo Pereira e dos seus eventuais correligionários. O que não pode ser: o rapaz é novo demais, o BMW ainda brilha sem necessidade de polimento e aguarda-se pelo Verão para que possa dar adequado uso à piscina no quintal. Além disso o contrato com a Visão ainda não acabou e, nos tempos que correm, não se abandona assim nenhum emprego, mesmo que se receba atrasado.

Uma das mais queridas anedotas dos tripeiros é o túnel de Ceuta, ultimamente muito discutido por todos os lados e em todos os sítios, incluindo este. Em boa verdade creio que já ninguém se recorda de quando começaram as obras. Sendo hoje cada vez mais claro que ninguém sabe bem o que quer e onde é que elas vão acabar. Um primeiro empreiteiro entaipou a Praça Filipa de Lencastre e começou a furar por ali fora como uma toupeira. Faltou-lhe o ar, cansou-se, voltou para trás e abandonou a obra. Extenuada, a Câmara mudou de vereação, prometeu concluir a obra, iniciou aquilo a que ainda hoje chama a Casa dos 24, apesar do aviso repetido de Germano Silva para o facto da designação estar errada.

Acabou o mamarracho no Terreiro da Sé, de nada valeram os bons ofícios e os terços rezados pelo reverendíssimo bispo na clausura do paço. Sem préstimo e sem uso lá está a torre, abandonada e suja a simular a patine que não tem. O túnel ameaçou recomeçar, os menos avisados julgavam-no já quase a chegar ao castelo da Foz.

Concluiu-se o parque de estacionamento da Praça de Gonçalves Zarco - denominação erudita da rotunda do Castelo do Queijo -, deu-se-lhe o mesmo uso da tal dita Casa dos 24, abandonaram-se as obras e as tralhas nas Praças de D. João I e de Carlos Alberto. A sociedade Porto 2001 foi extinta, Teresa Lago perdeu o emprego e as mordomias, arranjou-se-lhe um medíocre lugar de deputada. O túnel de Ceuta, disse-se, estava por um fio. Era só esperar que no tribunal à esquina da Rua da Picaria fosse julgado o facínora Camilo Castelo Branco e a sua amante da Rua do Almada. Continuaram ao supersónico ritmo de Santa Engrácia as obras da Casa da Música.

As obras do túnel de Ceuta recomeçaram, o presidente da câmara discursou inflamado, o bispo benzeu o estaleiro, as ferramentas e abençoou os operários. As seguradoras do grupo Espírito Santo recusaram subscrever a apólice de seguro, alegaram como razões de monta o prémio baixo e o risco alto. O projecto da Casa da Música foi adequadamente alterado, dotando-a de um elevador que suportasse o peso do PCA, com o bolso cheio com o ordenado acabado de receber em moedas de dois euros. Aproveitou-se a oportunidade, e também adequadamente, dotou-se o piso da administração de uma toilette decente, capaz de acolher a urina dos administradores e de dar-lhes o necessário conforto aos bojudos traseiros. Devidamente insonorizadas, está claro!

Hoje, em plena semana santa, a tal Casa dos 24 jaz no Terreiro da Sé sem nenhum préstimo, nem os comerciantes que ainda sobrevivem na Rua Escura se propuseram alugá-la, o arquitecto não recebeu nenhum prémio nem foi sequer felicitado por Helena Roseta. O parque de estacionamento do Castelo do Queijo, graças à seca e à localização, está felizmente vazio de águas pluviais e de automóveis estacionados. O edifício transparente, que não faz parte desta história e de que se não falou por esquecimento, tem as vidraças surradas e espera-se que dentro de alguns cinco anos garanta à câmara um elevado aluguer, sempre da ordem dos 1.000 euros.

O engenheiro Nuno Cardoso continua a lutar por ser candidato à presidência da câmara, dispondo do apoio incondicional dos familiares e do silêncio do vereador Gaspar. O túnel avança, com as toupeiras cegas não sabendo onde verão a luz do dia e quem terão a aguardá-las: o presidente da Câmara do Porto ou o presidente do IPPAR. Entretanto vão-se engalanando um flanco do Hospital Geral de Santo António e a frontaria do Palácio dos Carrancas, vulgo Museu Nacional Soares dos Reis.

Ao início da tarde passei por lá. Queria ser isento, mas não o consigo. Tomo partido pela saída do túnel em frente à portaria principal do Museu Soares dos Reis, se não puder ser lá dentro, no remanso de uma sala onde se exponham olarias de Rosa Ramalho ou no quintal, durante o Verão, à sombra verde e fresca de uma hipotética tília que não tenha sido podada. Pela fotografia, vejam se não tenho razão!

1 Comentários:

Às 2:13 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

Que chatice, o gajo ter uma piscina e um BMW, não é? Em cada um de nós há uma sopeirinha invejosa...

 

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