6 de março de 2005

O saneador implacável

Eu não sei se o país conhece Pedro Mota Soares. Eu não conheço. Ou por outra! Ouvi falar dele durante o dia de hoje, no decurso dos noticiários radiofónicos. Acho de todo imperdoável que o não conheça! Até porque compro jornais, folheio revistas, não dispenso as crónicas da Margarida Rebelo Pinto e sou visita diária do curral dos burros para me manter ao corrente dos últimos e profundos pensamentos do Luís Delgado que o Roncinante trata carinhosamente por Luisinho. Além disso ouço rádio, tendo-me desleixado um pouco com a Rádio Cidade, o que todavia não deve ser importante. Até porque ouço atentamente todos os fóruns da TSF que, como se sabe, repete os temas, os convidados e os participantes de dois em dois dias. Além disso, como no tempo da Mocidade Portuguesa, não tem turmas mistas. É um fórum para homens de barba rija de manhã e outro, para louras, morenas, casadas ou solteiras à tarde. Tenho um contra: não vejo televisão. Primeiro porque já sei de cor e salteado o que dizem a Judite de Sousa e a Fátima Campos Ferreira. Depois porque a única e verdadeira piada que hoje acho ao Herman José é armar-se em fino, a pilotar iates, a ir passar fins de semana ao principado do Mónaco como se fosse a Lili Caneças e a dizer carroçadas como nunca em tempo algum se ouviu na puta da Ribeira.

Mas soube hoje que Pedro Mota Soares é o único político português - a seguir ao seu demissionário líder que nos enche as medidas com as lições de humildade democrática! - a reclamar a surrealista qualidade de não ser hipócrita e de a acumular com a habilidade inata de fazer embrulhos e de os despachar pelos correios. Enquanto o diabo esfrega um olho, sem consultar o líder porque este não existe, leu o fax que o gabinete do engenheiro Sócras mandou com a constituição do governo, correu à arrecadação a buscar um escadote, empoleirou-se nele e apeou da parede do Caldas o retrato de Freitas do Amaral. Antes que este ou a família dessem por isso, estava feito o embrulho, em papel pardo, amarrado com um vulgar cordel de nylon e colada uma etiqueta com destino ao Largo do Rato. Já que és rato, vai-te, que aqui acabou-se o queijo embora se espere que lá mais para diante possa haver uma bolita de Limiano. Vai-te a ser ministro de estado, dos negócios, dos nacionais ou dos estrangeiros. Entretém-te a escrever biografias do Afonso Henriques que eu, se aqui tivesse o retrato dele, mandava-o direitinho para Castela, com portes a pagar no destino. Escreve peças que actores hipócritas se disponham a representar no Teatro de Trindade. Vai dando aulas de direito administrativo enquanto o pregador de domingo te não faz a cama e a lei te não jubila. Por mim, Mota Soares eu não seja, aqui no Largo do Caldas, estás saneado. Ninguém te conhece, ninguém se lembra de ti, não fazes cá falta nenhuma!

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