23 de março de 2005

O sistema do Abelino

Pudessem todas as coisas ser assim e o país estava salvo. Bem escusava o engenheiro Sócras de mandar os seus ministros percorrê-lo de lés a lés, utilizando estradas florestais, carreiros e atalhos. Munidos de longas fitas métricas adquiridas em lojas de chineses, a medir a pobreza e a idade das pessoas, propondo a estas o alongamento da esperança matemática de vida, de forma a que se não finem antes dos 80 para que no próximo ano possam receber o óbolo e ouvir o pároco proclamar do púlpito abaixo que a freguesia já não tem pobres. Nessa altura certamente que o governo, com a colaboração do Instituto Nacional de Estatística e a assessoria dos serviços de informática do Ministério da Educação, mandará até que se estabeleça uma lista ordenada a que os intelectuais chamam "ranking" e que muito contribuirá para a felicidade colectiva, para o aumento dos índices de natalidade e para o pleno emprego dos professores.

Infelizmente nem todos podem exibir a polivalência - parece que é assim que se diz! - do compadre Abelino, presidente da Câmara do Marco há cinquenta e oito anos, patrono de ruas, campos de bola, fontes secas e caminhos com mais de dois metros de largo. Como já se tinha visto, o seu desempenho na quinta dita das celebridades foi em tudo idêntico àquele a que nos habituou na autarquia, incluindo a utilização de recursos para sachar o campo de batatas e olear os gonzos dos pesados portões de ferro. E o público em geral, incluindo a Júlia Pinheiro e o burro cujo nome me escapa, teve a oportunidade de ver, em directo e a cores, as imaculadas cuecas que usava, cheirando à frescura lavada que só o aloé vera do anúncio permite.

Sabendo que anteriormente desempenhara todos os cargos no clube da terra, incluindo o papel do adepto com mau perder que insulta o árbitro e a família, esgrime um guarda-chuva de ponta afiada e vira de cangalhas, a pontapé, mesas, bancos e cadeiras da tribuna dita VIP, a PJ - que aqui figura por Polícia Judiciária! - a contas com o complexo processo do apito, chamou-o a colaborar na investigação. Colaborante, foi. Convencido, apressou-se. Seguro de si, à saída, abriu a alma ao diabo e aos microfones da comunicação social. Para se pronunciar sobre a ajuda que lhe solicitavam e a forma desinteressada como a dera.

E, de cátedra, pronunciou-se sobre a crítica da razão pura e a sua influência no espírito do árbitro que validou 4 - golos - 4 ao Nacional da Madeira em pleno estádio do Dragão, na presença solene de Pinto da Costa, Catarina Salgado e do chamado "dream team" que, por ajuste directo, propôs a sementeira de asfalto na avenida dos Aliados e a recolha do presidente da câmara a um dos prédios reconstruídos da Praça de Carlos Alberto. Com renda actualizada a cargo da autarquia, mas só depois de novas eleições.

Do mesmo modo explicou a quadratura do círculo que, sob a forma de tumor, habita há anos a cabeça de Dias da Cunha que, por falta de cultura, se limita a chamar-lhe sistema. E demonstrou como duas sessões de Reiki tinham acalmado o homem, levado ao árbitro que estudou todo o compêndio do J. Bonifácio a exibir cartões vermelhos, a assinalar uma grande penalidade e a levar o Sporting à vitória.

Grata e eternamente devedora ficou a PJ. Que, para já, decidiu nomeá-lo também para o apito dourado. Só se não sabe é se vai ganhar. Mas ele recusa prémios que se atribuam a artistas secundários!

1 Comentários:

Às 8:08 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

O Avelino é um cromo. Deve dizer-se, no entanto que usa cuecas decentes... ao menos isso!

Um abraço,
Francisco Nunes (Planície Heróica)

 

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