24 de maio de 2005

O défice

O défice varreu a actualidade dos últimos dias com a mesma eficácia com que o senhor Emídio Rangel vendia detergentes importados de Espanha e inquilinos para o Palácio de Belém. Em boa verdade o défice é uma - porventura a única! - descoberta dos economistas e uma criação incompetente da classe política. Agora, hoje, num Conselho de Ministros extraordinário que todavia manterá as comunicações ao país à hora dos telejornais, o mesmo défice prepara-se para fazer esquecer o penalti do Simão Sabrosa, o eloquente discurso de vitória de Luís Filipe Vieira e as históricas comemorações que benfiquistas e portistas conjuntamente promoveram na noite de domingo passado, na Praça Nova das Hortas.

O défice trespassa-nos a vida como balas, duas de lado a lado. O governo, no desconchavo de um dia inesperado, prepara-se, no silêncio pornográfico a que nos tenta habituar, para no-la foder mais um bocado. Os iluminados arrolados pelo senhor Vasco Pulido Valente, acompanhados de outros de menor projecção mediática, chegam à brilhante conclusão que o nível da água, nas oclusas da barragem de Crestuma, só sobe de duas maneiras: ou fechando as torneiras de saída, ou abrindo as de entrada. E a mesma receita, com mais água e menor sabedoria, se aplica à urgente resolução do défice: ou se aumentam as receitas ou se reduzem as despesas. Aquilo que já o senhor de La Palisse sabia, mesmo ainda antes de ir à escola e acreditar que o planeta girava em torno do sol.

O poder político que tínhamos antes das últimas eleições não nos trouxe nada de bom. Mesmo a mordomia que, a título de comissão nas vendas,o senhor Rumsfeld decidiu atribuir ao senhor Paulo Portas é propriedade pessoal deste e os seus descendentes da terceira geração, se os tiver, hão-de trocá-la a patacos. Do poder que as eleições nos trouxeram nada de bom, também, se pode esperar. A não ser o espalhafato com que o senhor Jorge Coelho vai tentando impingir cobertores na feira de Espinho no decurso do Verão, enquanto se escandaliza com o atrevimento de quem contribui para o défice do ministério da saúde com o uso pouco avisado de camisas de manga curta.

Este regime democrático, servido por abutres e outras aves de rapina, não representa quem corre às urnas no engodo de melhores cuidados de saúde, mais possibilidades de emprego, mais justas pensões de reforma e melhores dias. Os eleitos atiram-se ao espólio e ao saque, como cruzados que tivessem acabado de ajudar D. Afonso Henriques a expulsar os mouros do Castelo de S. Jorge. Por vocação cristã e inspiração divina. E, para inspiração divina, já bastou ao país o senhor António Salazar. Que, como se sabe, não soube ou não quis servi-lo da melhor forma. Mas não consta que se tenha servido dele, a não ser em condenáveis relações de incesto! A mão no prato parece que não era especialidade sua, eram mais as finanças públicas!

1 Comentários:

Às 1:03 da tarde , Blogger Afonso Henriques disse...

Não me lixem!
O regime que permite que abutres e outros rapineiros se sirvam à tripa forra do que bem lhes apetece, oferecido em bandeja de prata pelos "eleitores" desta terra arrolados como bestas de carga tem um nome: república. Por uma vez:
a) Ponham os olhos em Espanha e Portugal em 1975 e em 2005.
b) Vejam as diferenças
c) Reconheçam A diferença.
Cumprimentos

 

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