30 de junho de 2005

Amanhã é pior dia

Pela primeira vez desde a sua entrada em vigor, em 1986, o IVA passa a ter em Portugal a taxa normal de 21 por cento. O aumento, de 2 pontos percentuais, é o cumprimento de uma das mais badaladas promessas do Partido Socialista durante a campanha eleitoral, garantindo que não aumentaria os impostos e que não faria o discurso da tanga. Fá-lo com a mesma intenção e no declarado propósito de combater o famigerado défice que o cidadão comum não sabe sequer o que é. Anuncia-o o governo com falinhas mansas, dizendo que são sacrifícios que pede aos portugueses para construção de um futuro melhor. Como se o Estado alguma vez tivesse pedido ou pedisse ao cidadão vulgar fosse o que fosse. O Estado, de forma prepotente e à força de cargas policiais se for preciso, nunca pediu nada. Sempre, de forma ditatorial e absoluta, se limitou a exigir. Depois sim, há os interesses corporativos que exigem. Porque não chove ou porque chove de mais. Porque faz muito calor ou porque faz muito frio. Porque o vento sopra de norte ou porque sopra de sul. O Estado, ganancioso, reclama, esbraceja, mas concede. Sempre muito, na sua óptica. Sempre pouco, na óptica das corporações.

Quem não pede é o operário caído no desemprego porque uma empresa qualquer decidiu mudar-se para a Roménia, onde pagará um salário mínimo cerca de cinco vezes menor do que aquele que vigora em Portugal, o país mais atrasado da União Europeia dos quinze. Nem sequer valeria de nada que o fizesse. Por falta de dispositivos legais que acolhessem esses pedidos, por falta de ouvidos do Estado que se preocupassem com os mais pequenos e os mais fracos, como se a subsistência fosse questão de alguma importância com que devesse preocupar-se o Governo da República e o orçamento. A subsistência dos pequenos não é nada se comparada com o raio da terra, não se iguala a cem dias de nenhum executivo, fica a milhas do custo da Centro Cultural de Belém e do défice da Expo 98 e até a léguas dos vencimentos dos administradores da Caixa Geral de Depósitos e da pensão, por invalidez, do Ministro das Finanças.

Mas a partir de amanhã o Estado aumenta a margem de lucro com que autoriza a comercialização das peúgas, das cuecas, das camisas e dos barretes que ainda usam os campinos da lezíria ribatejana. Se o Estado, com falinhas mansas e boas maneiras, nos não pedisse nada, pagaríamos 1.000 escudos por umas cuecas vulgares. Assim vamos pagar 1.210. Mais 210 escudos ou seja, quase mais um quarto do respectivo valor, incluindo já o lucro do dono da loja. O Estado não é um comerciante, nem na pior acepção do termo. Mas é garantidamente um ladrão, na melhor acepção da palavra. Condição de que, aliás, ninguém de bom senso ainda ousava duvidar!

5 Comentários:

Às 12:06 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

110% de acordo.

 
Às 11:26 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

Gostei do blog convido-vos a visitar este blog deveras interessante pelo simples facto que lá na Arca escrevem os mais prodigiosos inventores da escrita zoófila. Passem e comentem...abraços bloguistas e se gostarem linkem
www.arcadobue.blogspot.com

 
Às 3:22 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

E depois, andam todos por aí a apregoar que o Estado é «pessoa de bem».Tá certo! Pois!... É o maior devedor e esbanjador do país, e o zé povinho que se lixe!

www.padeiradealjubarrota.blogs.sapo.pt

 
Às 2:40 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

De acordo com a maior parte, mas quato às cuequitas, este estado apenas fez subir o preço das tais, as de mil escudos, de 1.190 para 1.210 escudos, afinal uns míseros 2 cêntimos... o pior é que desconfio que a ganância dos comerciantes as façam disparar para 1.300 por causa dos arredondamentos...

Cumprimentos

Teofilo M.

 
Às 2:44 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

Escrever sem reler é o que dá... são 10 e não 2 cêntimos.

Esta matemática...

Cumprimentos

Teofilo M.

 

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