20 de julho de 2005

Mercado do Bolhão

Depois de um mandato cinzento, apesar do "dream team", da Avenida dos Aliados e das corridas de calhambeques, o Dr. Rio assume-se finalmente como um decisor e não como um vulgar manga de alpaca, incumbido das funções de guarda-livros, com inscrição na Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas. E com isso deu um passo importante a caminho da celebridade e um salto com vara na subida ao Olimpo. Em três dias despejou os comerciantes do Mercado do Bolhão, ameaçou iniciar obras de restauro dentro de um ano, estimou os respectivos custos em 15 milhões de euros, afirmou que a Câmara não tinha dinheiro para as mandar fazer e que, por isso, as mesmas passariam para o âmbito da SRU, mais conhecida por Porto Vivo que, apesar de tudo, continua morto.

No despejo dos comerciantes foi mais expedito do que a Polícia Municipal na vigilância das ruas e até mesmo do que aquele célebre pistoleiro dos bonecos que era mais rápido no disparo do que a própria sombra. Foi além disso magnânimo e previdente, salientando que, mais que a cidade e as suas freguesias, todo o país deveria ter aprendido com o desastre de Entre-os-Rios. Previdente e calculista disse querer evitar idêntica tragédia. Especialmente agora, que a chuva é farta e que o telhado do lado sul poderia não resistir à passagem de uma qualquer camioneta de passageiros, alugada para uma excursão à Quinta do Covelo. Cuidou do decente alojamento dos despejados, autorizando-os benemeritamente a ocuparem os vãos de escada, a sombra dos candeeiros de iluminação pública ou a amontoarem-se no lado norte, como prisioneiros árabes no campo de Guantanamo.

Justificou a brevidade do despejo com a urgência do início das obras, agora que o Metro do Porto tem quase consumada meia demolição. E revelou que as mesmas deverão ter início dentro de um ano. Um seu vereador, que sonha vir a ser presidente e ostentar ao pescoço a concha de escanção, à proporção da ambição, anunciou que por ele se iniciarão dentro de seis meses e estarão prontas ainda antes disso.

Disse que o custo das obras se estimava em 15 milhões de euros. Que é apenas uma cifra, assim a modos do somatório dos jackpots do euromilhões: a gente nem imagina quanto é que aquilo é, mas sabe que pode sempre crescer ao ritmo da capacidade política de quem dirige. E contra o conteúdo das contas de merceeiro que, na condição de guarda-livros, manda depositar abusivamente nas caixas de correio dos portuenses, revelou que a Câmara não tinha dinheiro para essas obras. O que não é novidade para ninguém: a autarquia estava falida mesmo que pintada de rosa, continua falida mesmo que esborratada de cor de laranja, com um traço a vermelho na esquina que dá para os Fenianos.

Não havendo dinheiro, as obras de restauro passarão para a Porto Vivo cujos capitais, se os houver, são pertença de investidores privados, apenas obedecendo à tutela liberal da economia e do engenheiro Ludgero Marques, como se sabe. De forma que já se imagina o engenheiro Belmiro de Azevedo a vender batatas nas freguesias da Senhora da Hora e de Santa Marinha e a promover o realojamento de comerciantes da freguesia de Santo Ildefonso num renovado Mercado do Bolhão. E a disponibilidade do senhor Salvador Caetano, apesar da idade, para receber alguns a que não calhe banca, na freguesia de Avintes. Onde mandará que lhes sirvam broa, da autêntica, com uma caneca de verde tinto a acompanhar.

Espera-se é que o Dr. Rio, por passagem compulsiva à situação de reforma, não volte a terreiro acompanhado do seu "dream team" que não consegue concretizar um lance livre e muito menos transformar um lançamento de três pontos. E que não venha depois com as suas ideias elitistas de apenas permitir que ali se comercializem galináceos depenados na Isabel Queirós do Vale e portadores de diplomas emitidos pela Faculdade de Economia.

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