31 de agosto de 2005

Para a política serve tudo

Esta manhã, no Porto, a pé, Rua da Escola Normal abaixo, Rua da Escola Normal acima, matutando com os meus botões. Pensando bem não há profissão menos exigente, em todos os sentidos, do que a política. Todas as qualificações se enquadram no perfil, todo o bicho careta serve! Como diziam os velhos da minha freguesia, na primeira metade do século passado, fulano de tal não prestava para o trabalho, não sabia fazer nada, tinha ido para Lisboa, andava pela política. Entretanto pouco ou nada mudou - e nada para melhor! - a não ser que Eça morreu e se lhe perdeu a pena ágil e a ironia feroz.

Se bem atentarem nisso um serralheiro serve para deputado mas um deputado não serve para serralheiro. Um advogado serve para deputado às assembleias municipais, vereador, presidente de câmara, deputado, secretário de estado, ministro e até presidente da república como Jorge Sampaio. O distinto José Guilherme Aguiar serviu até para director dos futebóis de Valentim Loureiro - um militar que também serve para tudo, incluindo a política - e para presidente de junta de freguesia. A esta faculdade o código do trabalho de que Bagão Félix é pai extremoso chama polivalência. O cidadão comum e bronco chama-lhe, em português escorreito, vigarice.

Entre os 230 deputados à Assembleia da República que, segundo eles e as leis que eles fizeram, nos representam, há quase de tudo. O Partido Comunista, despudoradamente, chega ao ponto de ter um afinador de máquinas que para além de deputado é secretário-geral, um trabalhador agrícola e, inevitavelmente, uma fila indiana de licenciados em direito. O Partido Popular, que já deu pelo nome de CDS, tem licenciados em direito que vão de Álvaro de Castello com dois eles tracinho Branco, que acumula com um João Semana de meio curso, a Teresa Caeiro que já foi chefe de gabinete, governadora civil, secretária de estado descartada à última hora e secretária de estado a tempo inteiro, com chefe de gabinete, contínuo e motorista fardado sem horas de saída.

Nos pequenotes, na chamada esquerda caviar - ou que aviar? - há filólogos, sociólogos, historiadores, economistas, cursos gerais e complementares dos liceus e do comércio, complementares dos liceus e licenciaturas em direito. Nos grandes, naqueles que entre si garantem a alternância democrática ou o exercício bipartido da ditadura por períodos de quatro anos, há engenheiros, licenciados em direito, desistentes do ensino superior, licenciados em relações internacionais habilitados com o 12º ano que são também docentes universitários, licenciados em marketing, em farmácia, diplomados com o magistério primário, licenciados em ciências da comunicação.

Claramente que um deputado não sabe nem afinar máquinas nem sachar batatas. Do mesmo modo que não está habilitado a defender o Bibi nos processos de pedofilia de que é acusado nem a leccionar filologia, história ou sociologia. Não está também apto a relatar os episódios da voltinha a Portugal como o meu amigo Ribeiro Cristóvão - parabéns pelo sucesso no exame António! - nem a dar aulas no ensino superior como António José Seguro. Mas qualquer cavador serve para a política, dependendo da enxada. Ah, e do padrinho!

1 Comentários:

Às 2:04 da tarde , Blogger Teófilo M. disse...

O homem é por batureza um animal político.

Aristóteles

 

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