10 de fevereiro de 2006

O cagagésimo

Os portugueses, como é por demais sabido, alinham os números muito mal. Sejam doutores ou analfabetos, farmacêuticos ou trolhas, estudantes cábulas ou aplicados. E isto independentemente de serem inteligentes ou burros, chicos-espertos ou mesmo só chicos, ministros ou comissários das nações unidas.

O Dr Sampaio, ainda presidente da república, terminou esta semana a sua última presidência aberta, seja lá isso aquilo que for. Porque, para mim, aberta é a porta e a conta no banco. A dita comunicação social fez eco do facto de ser o Dr Sampaio o primeiro presidente a visitar todos os concelhos do país no decurso dos seus dois mandatos. É óbvio tratar-se de afirmação falsa, destinada a confundir as populações porque, como se sabe, qualquer candidato à mais remota freguesia do nordeste transmontano conhece o país de lés a lés, de Miranda do Douro à ilha do Corvo. E mais instruídos ainda eram os regedores do Dr Salazar que conheciam o país, uno e indivisível, do Minho a Timor.

O périplo terminou com a visita ao distrito de Viseu onde uma freguesia - Canas de Senhorim - pertencente ao município de Nelas, foi ontem notícia de abertura de noticiários e mais noticiários por poder manifestar-se contra a presença do Dr Sampaio que, com sensatez, resolveu em tempos vetar a elevação da localidade a concelho. É evidente que o veto do Dr Sampaio não resolveu coisa nenhuma e não teria sido essa a intenção. O que eventualmente poderia resolver alguma coisa seria manter intacta a superfície do território, caso as garbosas forças armadas pudessem impedir a violação das fronteiras, reduzir o número de concelhos a metade, fazer outro tanto às freguesias e encaminhar para o fundo de desemprego cinquenta por cento dos políticos quer ocupam os cargos a tempo inteiro ou a tempo parcial.

No meio disto veja-se contudo qual a expressão nacional da freguesia de Canas de Senhorim. É apenas uma entre as 9 do concelho de Nelas, as 372 do distrito de Viseu e as 4.260 do todo nacional. Nas últimas eleições autárquicas tinha inscritos 3.059 eleitores entre os 12.847 do concelho, os 356.431 do distrito e os 8.840.223 do país. E, para a eleição da câmara municipal, votaram 1.820 eleitores, dos 8.657 que exerceram esse direito no concelho, dos 236.297 que o fizeram no distrito e dos 5.390.571 que se pronunciaram a nível nacional. Isto a acreditar que aquela gente do Stape é mais expedita no raciocínio e mais despachada nas contas do que era o saudoso engenheiro Guterres que as nações unidas têm.

O que quer dizer que os noticiários abriram ontem em pleno, advertindo contra a invasão de 3.059 bárbaros, representando no rigor matemático com que o ministro das finanças calcula o défice orçamental, menos que um cagagésimo do total dos eleitores inscritos a nível nacional. Fosca-se, que são poucos mas são do catano!

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