29 de julho de 2008

O país real

Sem comentários. Transcrito, com a devida vénia, do caderno local da edição de hoje do jornal de referência. Portugal é de facto um fenómeno do Entroncamento!

O indivíduo que baleou os vizinhos por acreditar que um deles, pelo facto de ser homossexual, estaria a sodomizar o seu gato foi ontem condenado, no Tribunal São João Novo, Porto, a cinco anos e seis meses de prisão efectiva. José Correia, 53 anos, foi condenado por homicídio na forma tentada e detenção de arma proibida. O tribunal deu como provado que, em Outubro de 2007, José Correia pediu a Anabela Silva (atingida pelos disparos), que se encontrava no pátio das habitações, que a ajudasse a resgatar o seu gato que fugira para um terreno contíguo. O vizinho J.P., que estava à janela da sua habitação e se apercebeu da situação, prontificou-se a ajudar no resgate.
Quando José Correia viu J.P. junto do gato, proferiu injúrias sobre a orientação sexual do vizinho. Assim que apanha o animal, J.P. desloca-se para a habitação do arguido, ficando Anabela no pátio, onde foi atingida por disparos de pistola. Provou-se que o arguido acreditava que a pessoa no pátio era J.P. e estava convicto de que "este era homossexual e que pudesse ter havido contactos sexuais entre o vizinho e o gato". Anabela foi operada, ficando com uma cicatriz de 23 centímetros. Durante as buscas policiais foram encontradas 38 munições em casa do arguido, conhecido por "Zé Pistoleiro".
O juiz não deixou de comentar as motivações do arguido."Dar um tiro em alguém por ser homossexual e por supostamente ter tido relações sexuais com um gato que ajudou a resgatar, e por isso o animal ter ficado paneleiro, é talvez o motivo mais torpe que eu já vi na minha vida", frisou.

9 de julho de 2008

Exportações

Segundo os economistas, mesmo antes de chegarem a ministros das finanças ou a comentadores da TSF, uma forma de reduzir o défice é aumentar as exportações. Este país não exporta produtos agro-pecuários porque os não produz e porque Espanha produz que chegue para eles e para nós e a custo mais baixo. Coisa que se não entende porque eles têm salários mais elevados, regalias sociais mais vantajosas e combustíveis mais baratos. Certamente porque o petróleo explorado nos poços da Catalunha sai mais económico do que o que exploramos no Beato e no Largo do Rato.

Depois as fábricas de conservas, a bem da especulação imobiliária, viraram condomínios fechados e as sardinhas passaram a ser enlatadas em Marrocos. O vinho, como manda a tradição e o elevado nível de alcolismo, consome-se por cá e a preço exorbitante. Além disso todo o mundo, despudoradamente, passou a produzi-lo. Do Chile à África do Sul, como se lhes assistisse esse direito. O fado perdeu a sua fada-madrinha e as comunidades de emigrantes passaram a preferir outra música.

Nos serviços, exceptuando a absorção de uma qualquer chafarica pelo universo do senhor Bill Gates, o país não exporta um centésimo dos futebolistas que exporta o Brasil. E a banca diz-se internacional quando, tendo um balcão em Campo Maior, abre outro em Badajoz. Sevilha já fica quase tão longe como os Cárpatos e não há TGV que lá leve os corta-fitas para as inaugurações.

Restava usar a imaginação, que o governo não se cansa de encorajar e de promover com subsídios a fundo perdido e perdão informal de penas de prisão. O país está a especializar-se na exportação de facínoras e criminosos. Nada do tipo do Zé do Telhado que, segundo se diz, utilizava métodos pouco científicos de roubar aos ricos para dar aos pobres. Mas de sucesso, habilitados com títulos académicos, accionistas de empresas com elevado volume de negócios, habitando com luxo em mansões valendo milhões de euros e conduzindo automóveis topo de gama. Como o Dr. Vale e Azevedo e outros 300 de cuja segurança a Interpol vai cuidando carinhosamente. Não tarda, virá o ministro das finanças anunciar novo sucesso do seu gabinete e apregoar mais uma redução do défice. Apesar do aumento externo das ramas de petróleo...

6 de julho de 2008

Palhaçada

Este País é um circo povoado pelo desempenho trágico de palhaços pobres, sem talento e armados em ricos. Em que um deles, cujo nome a história não guardará por boas acções, me recordo de ter ouvido dizer que o futebol é um exemplo no que se refere à honestidade dos seus dirigentes e à transparência dos seus processos.

Depois da encenação surrealista do Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol os jornais discutem hoje se poderão ser consideradas juridicamente válidas as decisões tomadas. Quer dizer, é perfeitamente irrelevante discutir o mau cheiro dos dejectos que cabeças ilustradas e brilhantes produziram, ainda que à custa de muitos gases e do valor das inevitáveis senhas de presença.

Mais importante do que isso é que os dejectos sejam legítimos, como se a legitimidade lhes perfumasse o cheiro e enriquecesse o currículo de quem os produziu. De facto os senhores conselheiros não fazem merda. Como gente ilustrada que não deve confundir-se com gentalha vulgar, os senhores conselheiros defecam. Gente fina, de facto, é outra coisa...