9 de setembro de 2008

Um ano

A mãe partiu faz hoje um ano. Em vésperas de completar 96 anos não era propriamente uma criança. Os seus dois últimos anos de vida foram de uma agonia que não merecia, tantos os percalços, tão diverso o sofrimento. Pouco mais de uma semana antes o hospital dera-lhe alta ao fim da tarde de uma sexta-feira. Estando eu presente, fui ignorado. Porque eu, sendo leigo, sabia bem que não estava em condições que aconselhassem tal decisão.

Voltou a ser internada na noite da quinta-feira seguinte e a médica que o fez disse-me, pelo telefone, que a situação era crítica. Estive lá no dia imediato para constatar que a mãe já não era mais do que um destroço no meio de tubos, monitores, aparelhos e cheiro a hospital. Já me não viu e já me não falou. Na semana anterior já não se alimentava. O meu choro derramou-se a um canto de um corredor, enquanto houve lágrimas que o alimentasse. Não me lamentei, não falei com ninguém, faltou-me a coragem para ficar, tudo e todos me ignoraram e eu não suportaria que assim não tivesse sido. E regressei a casa.

No sábado, quando telefonicamente quis saber qual era a situação, informaram-me que abrira os olhos e que aparentemente passara a respirar um pouco melhor. Foi nessa altura que TU, para quem terei sempre essa dívida de gratidão, sem hesitação, me disseste: tens que lá ir! Na manhã seguinte ambos iniciávamos a descida das escadas do prédio quando o telemóvel me soou no bolso. Premonitória, TU o adivinhaste logo. Eu soube-o por intermédio de terceiros: tudo acabara. E regressamos a casa.

Hoje não me resta uma qualquer saudade a que se alude sempre. São as muitas e intensas saudades que crescem. É toda a muita falta que me faz. Que repouse em paz, não vou deixar de chorá-la nunca!

2 Comentários:

Às 6:07 da tarde , Blogger Meg disse...

Amigo Luís,
Hoje nada mais tenho que o meu silêncio para acompanhar as tuas memórias e o teu sofrimento.
Um abraço solidário.

 
Às 1:39 da tarde , Blogger bettips disse...

Desvirtua-se a morte para fazer ainda mais insignificante a nossa vida. Comparada com as 300 camas (sei lá???) que existem e outras 300 a existir para "cuidados paliativos".

Lamento L. a tua provação.
(só hoje vim aqui Março 09)
Abç

 

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