8 de outubro de 2008

O sistema, o monstro e a crise

O sistema é, naturalmente, o financeiro. Não o da Liga de Futebol Profissional, da Federação do Dr Madail, do seleccionador Queirós, do condenado autarca Valentim ou do reformado sportinguista Dias da Cunha. Mas aquele de que todos falam, desde os licenciados em engenharia civil a um qualquer domingo, depois da missa, aos reformados do Banco de Portugal desempenhando, por precaução, uma qualquer função em Belém, incluindo ministros e ajudantes, Barrosos e Santanas.

Mas ninguém sabe ou diz o que é o sistema, embora a semana passada se tenha ficado a saber que é mais demolidor do que um batalhão de Bin Ladens à solta. A ganância, de facto, de há muito ocupou o lugar da inteligência e do bom senso. A coberto de um neoliberalismo e de uma globalização que também se não sabe o que são. Na sociedade dos nossos dias vale tudo, até mesmo tirar olhos. E se nos apoquentarem algumas dúvidas, mesmo daquelas que o Dr Cavaco antigamente não tinha, atentemos no desempenho dos nossos governos e no do licenciado Sócrates em particular.

O progresso promove-se suprimindo benefícios, eliminando funcionários, vilipendiando professores e encerrando escolas. E promove-se mais rapidamente se de repente se desenterrar um navegador e se der o seu nome a uma maquineta montada no concelho de Matosinhos - porque ninguém sabe onde fica a freguesia de Perafita - a partir de componentes importados da República Popular da China. De cujo sistema financeiro, pasme-se, ninguém fala, mesmo quando se condecora o senhor Stanley Ho a quem o país residente na linha fica a dever a implantação dos jogos do poquer e da bisca lambida que tanto têm contribuído para o desenvolvimento do país e para a produção de batata doce.

Mas o sistema financeiro é uma qualquer coisa que se apoia numa rede infindável de instituições, muitas delas fictícias e outras tantas virtuais como se diz agora, cuja actividade principal é a usura, legitimada por um alvará convenientemente encaixilhado e pendurado numa parede revestida a madeiras exóticas. E a par da usura veio a ganância, a desonestidade, a intenção da ditadura económica. Ou será característica do sistema conceder empréstimos cujas prestações se sabe que não cabem no rendimento líquido dos beneficiários? E depois vir o governador do Banco de Portugal, com o seu ar clerical, recomendar moderação às famílias no seu recurso ao crédito e no seu nível de endividamento?

O sistema acabou por gerar um monstro que contabiliza lucros como nunca e que vive de bolso vazio. Um monstro de muitas patas e sem nenhuma boa cabeça ou, ao menos, sofrível. E o monstro pariu a crise. Para justificar os despedimentos e o desemprego. Para congelar salários e pensões, para reduzir ainda mais o apoio na doença e qualificar pessoas por via administrativa. Licenciando-as ao domingo, depois da missa!