28 de abril de 2009

Objectivos

A gestão por objectivos é, provavelmente, a expressão mais vezes invocada pelos gestores, sejam estes diplomados pelas universidades ou pelos estaleiros das grandes obras de betão. Mesmo os leigos e os ministros, como o Pino-Lino, por exemplo, já a ouviram e a ela se converteram sem resistência e sem condições. O ministro ainda há dias justificava, como só os gestores são capazes de justificar, o grande objectivo das obras que, ao que parece, vão ser realizadas na estrada nacional 125 que atravessa o Allgarve do também ministro Pinho-Linho. E, à falta de ouvintes, mesmo recrutados a garrafões de 5 litros, perguntava-se a si próprio se seria melhor deixar às gerações futuras uma estrada degradada e cheia de buracos ou uma estrada nova, sem curvas e sem irregularidades. Lamentavelmente, mas numa exemplar gestão por objectivos, não referiu sequer que as gerações futuras se irão confrontar também com o pagamento das obras, das comissões e de um ou outro enriquecimento ilícito que naturalmente tenha ocorrido.

Gestão por objectivos é assim como que um fruto natural e sem corantes ou conservantes do sistema neoliberal. Impõe-se hierarquicamente de cima para baixo, sem discussão ou acerto. E sem normas ou regras. É o vale tudo e o salve-se quem puder. E nos casinos, como se sabe, não são propriamente os jogadores que ganham, são mais os donos deles. A gestão por objectivos parece ter chegado à função pública, de que prudentemente se exclui a clique política, e à polícia. Cada agente da autoridade terá, doravante, objectivos a cumprir, que se não limitam a carregar a farda durante 8 horas diárias, engraxar as botas, saudar militarmente os chefes ou evitar habilidosamente o contacto com eventuais traficantes no exercício da respectiva actividade, no âmbito normal das horas de expediente e do horário de trabalho aprovado pelos organismos ou institutos competentes.

Cada agente terá de futuro de cuidar minuciosamente da sua preparação física. Para além do exercício, simples, de apertar o cinto à sombra do tísico salário que lhe pagam e da regularidade com que lhe atrasam a entrega das gratificações pelos serviços remunerados. Terá de ser capaz de correr os cem metros em 20 segundos para perseguir um pilha-galinhas ou em 15 para se escapar de meliante mais perigoso. Terá de mensalmente disparar meia dúzia de tiros de aviso para o ar e mais três para as pernas de larápios com cadastro, quer a pistola funcione quer não. Se as munições estiverem dentro do período de validade, pode mesmo acertar, mas sem deixar marcas. Tem ainda que gastar dois livros de multas de trânsito, metade de um deles por infracções muito graves e dez por cento puníveis com apreensão da licença de condução. Realizar 30 testes de alcolemia em que 6, pelo menos, claramente denunciem a embriaguez do infractor. Consumar 15 detenções, das quais 3 com perigo de vida e 2 em flagrante delito.

A avaliação anual de cada agente será feita em função do cumprimento dos objectivos. As promoções, se as houver, também. Bem como os aumentos de salário, se houver orçamento que sobre da construção do TGV,do aeroporto de Alcochete e das remunerações dos assessores políticos dos membros do governo. É bom que cada agente comece, diligentemente, a construir a sua carteira de meliantes e de facínoras. Bem vão precisar deles!

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