13 de maio de 2012

13 de maio



Por razões pessoais passei anos a correr para Fátima, ao encontro de minha Mãe. Acabei a gostar da pequena cidade, uma freguesia de Ourém, aspirando a ser concelho e fonte de emprego de mais uma série de filiados partidários e de recomendados do clero. Apesar de ser um aglomerado atípico e desordenado, a divergir do centro geográfico que é o santuário, para o qual acaba sempre a convergir de novo, a partir de qualquer local periférico.

Nunca o fiz nem como crente, nem como peregrino. E dei por mim, frequentemente, no recinto do santuário onde, como cursos de água, vão dar todos os caminhos. Mantive sempre uma atitude de respeito como acho que deveria fazer, quando entrei na basílica ou na nova igreja da Santíssima Trindade. A mesma atitude que observaria se entrasse numa mesquita, numa sinagoga ou noutro local de culto, com exclusão das seitas importadas do Brasil, que tem coisas bem melhores para nos mandar e nos impingem amunuenses reciclados em bispos. Onde simplesmente não entro.

Fátima tem, a partir de hoje e até 13 de Outubro, uma atividade febril e uma economia que quase escapa à austeridade da troica e aos disparates de Passos Coelho. Sem diversificar nada e sempre à volta de hoteis, pensões ou casas de hóspedes, restaurantes ou similares e lojas de vendas de artigos religiosos, imagens de Nossa Senhora e camisolas do Benfica ou do Cristiano Ronaldo. Muito pouca coisa de qualidade aceitável, considerando a população no seu conjunto.

Sempre me chocou que houvesse uma passadeira com o piso em mármore, que leva da Cruz Alta à Capelinha das Aparições e lhe dá a volta, por onde alguns crentes se arrastam, de joelhos, no cumprimento de promessas ou na esperança vazia de milagres. Porque de certeza nenhum Deus, nem o meu, nem o deles, alguma vez seria capaz de aceitar dos seus seguidores qualquer gesto que pudesse comprometer-lhes, por pouco que fosse, a dignidade e o porte vertical da cabeça. Não se é melhor por se ser submisso, nenhum favor se deve conseguir por se abdicar da condição humana.

Minha Mãe, ainda criança, não esteve na Cova da Iria – como de facto se chama o local – em 1917, mas esteve pouco depois. Calcorreando os caminhos que traziam da histórica freguesia do Olival, numa distância de, pelo menos, 20 quilómetros. Para encontrar um local ermo, povoado de pedras e de azinheiras, com um enorme charco de água, rodeado por uma pequena multidão de pessoas à espera da Virgem e do milagre. Como tudo mudou!

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