4 de outubro de 2012

A República acaba amanhã


Sem honra nem glória, vilipendiada e esquecida, invocada em vão, fina-se após uma negociata, à porta fechada, entre santos e pecadores. Numa cerimónia privada, reservada a um dos salões mais inacessíveis do município lisboeta e a um pequeno número de convidados do senhor Silva de Boliqueime que, por razões de segurança, sua ao que se presume, assim o determinou.

Há pouco mais de cem anos um outro Relvas desceu algures da região de Almeirim e da sua Casa dos Patudos para a proclamar de peito aberto e da varanda do edifício, sem temer os seus correligionários nem tão pouco os seus adversários políticos. Vir-se-ia a esperar quase tanto da República como se vem esperando da Senhora de Fátima. Acendendo velas, deixando esmolas, doando joias de família. Vãs expetativas, nenhum milagre, tão pouco uma elementar réstea de honestidade ou mesmo qualquer remoto aroma a competência.


A República trouxe uma confusão para resolver outra e não resolveu nada. Até que um rural ensinando em Coimbra, carregando às costas um saco de serapilheira e na mão um garrafão de vinho, se resolveu a descer até Lisboa, afirmou saber muito bem aquilo que queria, proclamou-se dono da quinta e aí se manteve até que uma cadeira de descanso o tivesse traído. Entretanto todo o tempo foi dele. Por celibatário e desconhecendo-se-lhe filhos bastardos, um outro professor da capital foi empurrado para a sucessão e tomou-se a sério. Muito mais nas vaidades do que nos propósitos.

Até que meia dúzia de militares de baixa patente, bem intencionados mas inexperientes, se puseram a caminho do Terreiro do Paço e, sem tiros, deram por si a ter a República nos braços sem saber sequer como alimentá-la. Mas, até aqui, o que mais surgiram foram patriotas que se foram servindo dela. Até chegarmos onde chegámos e prosseguirmos para onde se não sabe.

O Presidente da República adora o povo. O governo em peso adora o povo. O parlamento em plenário, sem ausências e sem trabalho político nas Caraíbas, adora o povo. E os tribunais, sem esquecer o Procurador Geral da República e a Dra. Cândida Almeida que não conhece o vocábulo corrupto, adoram o povo. Tanto e sempre que todos, em relação ao povo, agem de modo furtivo, movem-se colados às paredes, a coberto da noite, deslocam-se em automóveis de alta cilindrada, a velocidades quase supersónicas, com o caminho aberto por batedores. Não prestam contas nem pensam estar obrigados a prestá-las, confundem o que é coletivo com o que dá jeito  ser pessoal. Guardaram o socialismo numa gaveta e vão levando a democracia a enterrar em vala comum, em local desconhecido. E mesmo assim há quem hipocritamente afirme que este povo é o melhor do mundo. Apenas porque se não revolta, porque não dá cabo dos cacos que ainda restam!

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