16 de fevereiro de 2013

Ponte da Barca


Cada regresso é sempre uma primeira vez e não sei sequer dizer porque torno. E como uma vez chegado, caminho e me aconchego ao rio, como este se aconchega à vila e às pessoas. Com o fascínio do peregrino que alcançou o seu destino, mastigando distâncias, carregando fadigas e apoiando-se no cajado. A concha de santiago pendente da cintura, pronta para a água fresca e cristalina que antigamente jorrava das encostas.


O Minho era verde, tinha a cor da esperança. Hoje o Minho deixou de ser verde, tem a cor variada do abandono e a esperança foi arrastada pela força tumultuosa da corrente. A esperança era o homem que a lançava à terra, que a via rebentar e crescer pela primavera e pelo verão dentro. Era ele que a moldava com a ponta afiada de uma tesoura de poda, e ficava à espera de boas e fartas colheitas. Hoje os campos são apenas campos por onde o rio pode alargar a sua fúria ou espreguiçar-se. Não resultarão da cheia perdas que se chorem durante um ano, as águas revoltas não destruirão grandes culturas nem sacrificarão grandes manadas. Mas deixarão maiores ruínas, depositarão nas margens novos destroços. Na grande maioria dos casos a poda já nem é feita e sementeira é um termo arcaico que os próprios dicionários deixarão de mencionar.

E no entanto, pela estrada fora, a cada metro de caminho, explode o amarelo aveludado e alérgico das mimosas. Humilhando o tronco desengonçado dos eucaliptos que dominam a paisagem, aqui e ali ameaçando com uma pequena e vulgar flor branca, que passa despercebida até às ervas que ladeiam as bermas. Crepes de neblina descem pelos montes, envolvem os povoados, já não há chaminés que fumeguem o odor quente do café. O país conhece-se melhor percorrendo-lhe as estradas que o esventram. E que já quase não levam a lado nenhum!

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