24 de fevereiro de 2013

Serralves, antes que o inverno acabe


Serralves é uma rua por onde ninguém passa, um portão por onde se entra, um mundo inteiro que se estende sob os nossos pés e se alarga para lá do nosso olhar. Serralves é um edifício de que quase se não dá conta, um museu, Álvaro Siza escondido em cada recanto de luz que enche todos os espaços e jorra de todas as janelas. Um labirinto em que apetece perder-mo-nos, uma ansiedade que se dissipa, um fármaco que se poupa.


O edifício é novo, arejado, sóbrio. Tanto que se não dá por ele e se não consegue descrevê-lo com um mínimo de rigor. Tudo o que se pensar ou que se disser fica aquém do que se vê e do que se  sente. E no entanto ele está ali, discreto, quase perdido junto ao muro que protege uns vastos hectares de terreno, como se tivesse resultado de escavações arqueológicas que não buliram com o meio ambiente. Percorre-se-lhe o espaço que ocupa, as salas que se sucedem, as exposições que exibe e a luz que se não perde. Que não nasce a oriente e que se não põe a ocidente.

O parque fica para lá dos portões sempre fechados, por onde ninguém entra, salvo nos dias festivos, de ainda maior afluência e acessos grátis, tanto quanto sei. E espraia-se por terrenos diversos, acolhe flores, aromáticas, espécies seculares, desce escadas, contorna lagos, uma pausa algures para um café. Uma alameda de liquidambares que os biólogos um dia me dirão o que são, onde a primavera começa e o inverno acontece. E, sorrateiramente, acaba se nos descuidamos. Tenho uma paixão no parque, silenciosa, convicta, para toda a vida. Um castanheiro, junto ao roseiral, ainda de ramos despidos, erguidos em prece para que a explosão da primavera lhe traga roupa nova.

A casa dá o nome a todo o espaço, com a entrada principal virada a norte, onde corre, tranquila, a rua de Serralves. O portão fechado, a porta principal também. A cor rosa empresta-lhe um ar distinto para que sobressaia no meio do ambiente deslumbrante que a rodeia. Ali morou gente, dali se avista tudo, ali pisamos mármores que já serviram outros propósitos, deles se fez conforto de lareira, requinte de escada, utilidade de banheira.

Por isso Serralves tinha de ser. Rapidamente, antes que o inverno acabe!

1 Comentários:

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