9 de agosto de 2013

Morreu Urbano Tavares Rodrigues

A notícia vergastou-me antes de almoço, enquanto saboreava um café e folheava um jornal que, ele próprio, questionava a intenção altruísta do ministro Casto, ou Castro, ou Crato ou seja o que for, de subsidiar o ensino básico privado, no sentido de criar mais desemprego e possibilitar aos pobres a livre escolha da escola onde querem os filhos. Já que na Comporta os ricos brincam aos pobrezinhos, andando descalços, não comendo a horas certas e indo à praia sem segurança, fico na expetativa. Não tarda de certeza que poderei escolher livremente o automóvel em que hei de ir a Fátima, como fazem os ricos, utilizando uma bomba topo de gama como eles e o senhor Dias Loureiro usam. Devidamente financiado pelo orçamento do estado, pela ministra das finanças e pelos lucros exorbitantes dos suopes.


Tive com Urbano Tavares Rodrigues um batismo tardio, quando era um leitor inocente e compulsivo. Não me motivavam os contos e novelas e os relatos de viagens. Achava que lhes faltava a dimensão e a profundidade sociais que apenas obras de maior amplitude conseguem garantir. Até que, por acasos do destino, comprei e li Os Bastardos do Sol e, depois, Uma Pedrada no Charco. Depois, à medida das possibilidades do meu bolso e do crédito que um amigo me concedia numa livraria, corri a comprar tudo o que encontrei dele. E converti-me definitivamente, e com maior convicção à medida que ia deixando a inocência pelo caminho e pelos anos.


Urbano, com quase noventa anos, partiu hoje, mas não nos abandona. Deixa-nos uma obra intensa e variada, uma consciência incontornável, um espírito jovem e um sonho de futuro. Bem haja Urbano, por tudo. Aplaudo-te, de pé!

1 Comentários:

Às 7:20 da manhã , Anonymous Chris disse...

This is cool!

 

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