7 de agosto de 2013

O país sem tesouro

Pela calada da noite o governo fora a retirar da sua enxerga e do seu descanso um guarda aposentado, tido por perito a descobrir coisas por encomenda e pronto a ser espoliado de parte da sua pensão, a bem da troika, da banca e do futuro das más contas públicas.

Pela madrugada, algures e sem manta que o cobrisse, o primeiro amanuense interrompe o sonho de ali babá e os quatrocentos ladrões, pergunta pelos resultados da investigação do perito. O vigilante de serviço, mascarado de vice, informa-o que a coisa era como se pretendia, tudo invenções da oposição, da esquerda radical e do cardeal  patriarca, ámen.

Pelo alvorecer um estafeta é mandado a casa do insuspeito e aplaudido secretário de estado Pais Jorge, utilizando uma viatura de alta cilindrada e mais alto custo, como manda a austeridade, a confirmar-lhe a notícia e o emprego por que tão denodadamente se batera, contra ministros, bancos e suopes.

Pela manhã o secretário de estado acorda tal como viera ao mundo, nuzinho de todo, o patriotismo pelas ruas da amargura, uma irrevogável crise de amnésia. Não se lembra de nada, não sabe que cargo ocupa, esqueceu o nome do motorista, nunca foi a nenhum banco, ninguém alguma vez ou em algum lugar lhe falou ou lhe disse o que eram suopes. O que ele gosta mesmo é de sardinhas assadas com pimentos e de entreter-se a contar os tostões que lhe enchem a arca antiga, herdada dos avós.

Demite-se, sem saber o que é isso. O país está sem fortuna e sem tesouro, infestado de ladrões e de melgas. O primeiro amanuense exclama porra, mata alguns mosquitos que lhe sugam o sangue das pernas, retoma o sono e os sonhos. Amanhã é outro dia, de sol e mar, de trabalhar para o bronze, de gamar mais um bocado aos reformados. A bem da equidade!


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