13 de março de 2015

É tão longo este silêncio

É tão longo este silêncio como os teus dedos esguios que acariciam os ventos sem direcção que descem das montanhas nas noites de lua cheia. Atravessa o tempo, e cada minuto dele, com o rigor de um relógio de cuco a que não deram corda e a que sobrou inércia para se imobilizar, quieto e calado, sem anunciar manhãs. Desde há três dias que conto esta ausência pelos dedos e que sinto que me faltam dedos para te fazer presente e sentir o hálito fresco a hortelã pimenta enchendo o sorriso que te sobe pelo rosto quando ris por perto e alegras todo o espaço em volta das árvores ainda nuas onde desponta a folhagem.

Não há razão para que não sobre aquele perfume suave da flor de tília para estes dias que ainda faltam para que o verão se espalhe pelas praias e navegue pelos bosques que não temos. Porque sem ti há só vazio e falta, nem verão, nem praias, nem árvores, nem barcos no horizonte, procurando a barra e o abrigo do porto. E a esta hora da madrugada cresce-me a insónia, só por adivinhar que não há sonho que te faça vir pelo encoberto da noite, envolta na neblina de que se vestem os candeeiros que dão alguma luz às ruas da cidade e um nevoeiro cerrado para o regresso heróico de D. Sebastião, mesmo que este venha no bojo lúgubre de um navio.


Estão por inventar as palavras e os gestos com que se façam as despedidas, doces e solenes. Não chegaram as letras do alfabeto para as construir e as sílabas foram tantas que não se libertaram da garganta, deixando imóveis os lábios finos, sem cobertura de nenhum baton. Não há vocabulário que se escape dos dicionários e que se adapte às circunstâncias de que o momento se vestiu. As palavras e a falta delas seguem o mesmo trajeto, lado a lado, como linhas paralelas que se encontrarão apenas no infinito. Sem se saber a que esquina do tempo e do espaço elas se encostam à parede e se deixam escorregar para o chão, à procura de sossego e de descanso.

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