8 de março de 2015

Mulher apenas

Mulher é flor sem tempo, rosa perfumada de todas as cores, bela camélia caída no passeio, ser igual a todos os outros, sem necessidade de nenhum dia especial estabelecido por decreto, para hoje, amanhã ou depois. Mulher é o colo acolhedor e quente de minha Mãe, o seu regaço amplo e disponível, a sua mão leve nos caracóis do meu cabelo, o seu sorriso que me atravessa o corpo como uma carícia que não tem princípio nem fim, a sua compreensão para com todos os meus pequenos e grandes erros, a sua disponibilidade para todas as suas grandes e pequenas e permanentes ajudas.

Mulher é Mãe, minha Mãe enorme, sem dimensão nem época, o seu cabelo cobrindo-se de madeixas brancas, até exalar apenas um perfume branco sem origem e sem tempo, atravessando a eternidade, carregando sabedoria e sensatez, indicando-me o rumo, norte, sul, estrela polar, cruzeiro do sul, constelação brilhante, visível de qualquer hemisfério, sol da meia noite, luz de todos os dias, estação de todos os tempos, uma breve reprimenda de vez em quando, o meu regresso sem ressentimento ao perímetro seguro da aba das suas saias, um  afago, um beijo de ternura, um perdão que é privilégio de Deus.

Mulher és tu, coleguinha infantil da carteira ao lado da minha, um olhar eterno sob a franja dos teus cabelos, parceira de estudo, tabuada dos quatro, minha primeira namoradinha, exemplo acabado da intenção platónica com que te guardo na memória, o prazer que me dá ajudar-te a corrigir os poucos erros que deste no ditado, o romantismo com que a serenidade do teu olhar dobra o cabo Bojador, vencer as dificuldades das contas de dividir.

Mulher és tu, saia curta, andar juvenil, um brilho gaiato no olhar adolescente e penetrante, dando-me a mão, trocando um beijo furtivo num local escondido à luz do sol, sem jeito nem experiência, aceitando uma carícia tímida, desejando-a mais ousada, sonhando que se dobrem os curtos anos que faltam e te sobre a condição e a certeza de que és mulher inteira e completa, pronta a aceitar o amor e a esperança e a embalar nos braços um novo ciclo que se renova. Amanhã, de novo, serás Mãe. E continuarás Mulher!

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