10 de março de 2015

Quando a tarde anoitecer

Quando a tarde desce, arrastando consigo o crepúsculo fresco destes últimos dias de inverno, apetece-me sentar-me contigo num banco de um jardim público, segurar as tuas mãos entre as minhas e prender ao esverdeado dos meus olhos o teu sorriso alegre e natural, como o sortilégio da floração única das magnólias, que hoje são flor e amanhã verde. Alisar-te os cabelos que uma brisa vespertina, vinda de norte, espalha pela praia, sem provocar ondas nem perturbar o descanso das gaivotas, morrendo na espuma branca das águas que o mar deixa perto e cedo.

Depois escrever-te uma carta, tão eloquente que dispensasse todas as palavras e todos os gestos. E fosse, mais do que isso, todos os muitos poemas de amor que Neruda e todos os poetas que ele não conheceu, tiveram tempo e inspiração para deixar gravados neste granito agreste que conservamos e de que Torga tanto se alimentou, inteiro e vertical, recusando convites, cargos e benesses carregadas no dorso desértico dos camelos, olhando a paisagem sublime do Douro do alto imponente dos penhascos, uma humilde ermida ao lado da paisagem.


Ser capaz de te perguntar coisas simples e fáceis a que ousasses responder, serena e tranquila, a sinceridade do teu olhar espalhando-se pela inquietação que se me agita nas meninas dos olhos e se perde para além delas. Dizer-te que gostar muito de ti não é mais do que sentir que te apeteceu dizer-me uma palavra, esboçares um gesto curto e subtil com que os amigos se sentam à mesa das esplanadas nos dias quentes de verão, enquanto as tardes anoitecem à volta de um por de sol que arde onde o oceano se faz vida. E razão para ela!

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