4 de abril de 2015

Salgueiro Maia - Morreu há 23 anos.

E diz a Wikipédia, um instrumento de que me socorro, e que merece pouco mais do que a confiança que merece o governo, que foi um militar português. Como o foi uma coisa inenarrável como Américo Tomás, um Mouzinho da Silveira, um qualquer angolano de pé descalço e eu próprio, a quem, aos 21 anos, este país onde chafurdo, começou por roubar mais de 40 meses de vida, em defesa de uma coisa tonta, nascida na aldeia do Vimieiro, em Santa Comba Dão, e que se queria que fosse do Minho a Timor.

Não foi, como se sabe, nem de Melgaço a Monção, sempre pela beira rio, a Espanha seguindo-nos os passos na outra margem. E eu tive, por mim, a felicidade de não ter morto ninguém, não ter disparado um tiro contra ninguém, nunca sequer ter apontado uma arma a nada ou a ninguém. Nem a um cão vadio que desse ainda maior escuridão às noites de patrulha, ao redor do capim com mais de dois metros de altura.

Figurativamente, Salgueiro Maia​, foi ídolo a 25 de Abril de 1974, esquecido a 26, desprezado a 27, abandonado na doença e desconhecido hoje, em que já não é preciso odiá-lo e não pode constituir ameaça para nenhuma vocação patriótica. Apenas porque foi um homem que acreditou que se pode ser melhor e mais solidário, pensar em melhores condições de vida para os outros, e tudo isso carregando uma arma ligeira com um cravo vermelho espetado no cano e deixando ouvir o sonho que António Gedeão nos deixou, para comandar a vida, na voz insubmissa de Manuel Freire.

Não te mereceu o país que tiveste, Fernando José Salgueiro Maia. O mesmo que te recusou o prato de sopa quando esperaste que te pudesse, ao menos, dar o inventado euro que ela custa numa qualquer tasca do Cais do Sodré ou do Intendente. É disso que tenho vergonha, é disso que tenho nojo. E é por isso que aqui deixo estas linhas e me curvo, perante a tua memória, em frente a uma lápide simples e humilde, cravada num muro em Castelo de Vide!

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