16 de maio de 2015

A cidade nasce-te dos pés

Com a lua nova perdida na noite escura, a cidade sem nome nasce-te dos pés, liberta-se da muralha, escorre pela encosta, salta a avenida e projecta-se no espelho perfeito das águas quietas da baía, onde dormem os peixes e os sonhos. Não digas nada, dá-me a tua mão e a força do teu silêncio. Deixa que te adivinhe todas as palavras e todos os gestos, as luzinhas longínquas dos navios que se aproximam do porto, segredando-nos todos os anseios de futuro, a certeza do teu olhar inquieto percorrendo o horizonte.

A noite tropical, nuvens baixas tocando a linha marítima onde os navios se sustentam, mais de trinta graus, a humildade a escorrer-nos pelas costas, o linho da camisa encharcado, a lua já a caminho do quarto crescente. No suor que te enche a palma da mão um mundo inteiro de ansiedade, o sangue que te circula por veias e artérias, o desejo quente de um abraço que te desnude para o fresco doce da madrugada onde as nossas mãos chegarão de dedos entrelaçados e trementes.


Vamos atrás da noite e dos seus mistérios, que inundam de uma brisa fresca as areias da praia, sem murmúrio nem ruído. Nem ondas, só o silêncio da espuma branca que te chega aos pés de onde a cidade nasce desde o cume da colina. Falta ao céu o azul e as cores que enchem a superfície das águas, sobrando as mãos entrelaçadas e o escuro que te desnuda e te refresca quando já cheira a madrugada. Não precisámos de palavras nem de gestos para que ambos fôssemos um só abraço e um só destino, com a alvorada a anunciar-se a oriente. Porque o sol nasce sempre a oriente!

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